Alvor-Silves

sábado, 31 de janeiro de 2015

Catões e Cipiões

A uma nação é imposta uma enorme dívida...
Durante o tempo do contrato, tem que financiar os credores de forma insuportável e aceitar as suas exigências, mesmo territoriais. 
Paga a dívida, atingido o final do prazo, poderia descansar e seguir o seu curso na História?
Não!
O pagamento da dívida era o preço da paz.

Além disso, Cartago deve ser destruída!

Com esta frase adornava Catão, o Velho, o final de todos os seus discursos no Senado Romano.
À altura da morte de Catão, o jovem Cipião Emiliano partiria com o propósito de arrasar Cartago.
No final da 2ª Guerra Púnica, após a desastrosa derrota de Aníbal em Zama (por outro Cipião, seu tio), a uma Cartago (estimada em meio milhão de habitantes) foi imposto o pagamento de ~ 10 toneladas de prata, por ano, durante 50 anos. 

Quando Burro deixou a Sicília, depois de ter derrotado sucessivamente os Romanos, terá dito:
- Que terreno de combate deixamos aqui para Romanos e Cartagineses.
No entanto, Burro é mais conhecido por outra frase:
- Com mais outra vitória destas sobre os Romanos e ficaremos arruinados.
Estas "vitórias de Burro" são conhecidas como "vitórias de Pirro", pois o seu nome latinizado foi abandonado (ainda que tenha sido usado por romanos, como Sextus Afranius Burrus).
Apesar de Burro poder passar por burro, pela sua auto-crítica, terá sido bastante temido e considerado por Aníbal como um dos melhores generais em combate.

Roma estava em ascensão, e Pirro só conseguiu proteger as cidades gregas do sul de Itália por pouco tempo. A Sicília iria ser disputada na 1ª Guerra Púnica, e ao tempo que Pirro a deixou já os romanos tinham o controlo do sul de Itália. 
Após Pirro, a Roma faltava assim a Sicília a sul, e a norte, a região dos celtas Boii, de Bolonha, e dos Venetos, de Veneza.

Quando Cartago perde a 1ª Guerra Púnica, Roma acaba por anexar as ilhas - Sicília, Córsega e Sardenha, bem como ocupar o norte - os Boii eram aliados de Cartago e os Venetos alinharam pelos romanos (eram tribos com correspondentes celtas na Gália, que tinham entrado em território antes Etrusco).

Assim Cartago fica imediatamente sujeita a reparações de guerra, nomeadamente em prata. 
É também isso que levará os cartagineses a uma maior entrada no seu território da Hispania, para explorar as minas, e 30 anos depois Aníbal irá desencadear a 2ª Guerra Púnica ao cercar Sagunto e aniquilar praticamente toda a sua população hispânica, que pedira protecção romana.
A surpresa do ataque de Aníbal foi um trauma para os Romanos, quando atravessou os Alpes com os seus elefantes, em direcção a Roma. "Aníbal às portas" passou a ser sinónimo de perigo, e só com a estratégia de guerrilha fabiana (de Fábio Máximo) foi possível evitar a queda de Roma perante a derrota em Cannae. O exemplo de Fábio, duas vezes chamado a ditador, mas regressando à sua vida de agricultor, foi considerado exemplar (p.ex. dá o nome à socialista Fabian Society, da rosa vermelha de Lancastre).

Liberta Itália, Fábio queria deixar espaço a Aníbal que regressara a Cartago, mas Cipião Africano seguiu-o até ao confronto em Zama, onde foi forçado a uma rendição quase incondicional, e a um tributo mais pesado, bem como à proibição de usar armas sem pedir autorização ao Senado de Roma.

Duas guerras púnicas contra Cartago, foram vistas à época como duas guerras mundiais contra a Alemanha, e sempre a Fénix cartaginesa parecia voltar a erguer-se e a desafiar Roma. O pânico que Aníbal causara às portas de Roma, terá sido semelhante à ameaça dos bombardeamentos de Hitler sobre Londres. Tal como Cartago, também no final da 2ª Guerra Mundial a Alemanha foi proibida de constituir exército autónomo.

O prazo dos 50 anos a receber 10 toneladas de prata acabara. Cartago poderia crescer sem encargos e a perspectiva um novo Aníbal ameaçaria de novo Roma. Por isso, a frase de Catão soava como profecia, e faltava apenas o pretexto. 
A vizinha Numídia serviu esse pretexto, entrou dentro do reduzido território cartaginês, e os romanos, seus aliados, não autorizaram Cartago a recuperar as terras. Por isso, os cartagineses arriscaram, tomaram armas e atacaram os vizinhos. 
Passados 3 anos, da população estimada em meio milhão de habitantes, restaram 50 mil capturados como escravos, enquanto viam Cartago arrasada e em chamas, pelo novo Cipião, Emiliano.

Políbio conta que Cipião terá ficado circunspecto na altura da destruição, perante a reflexão de ver Roma sofrer o mesmo fado. Curiosamente, os netos de Cipião e Catão iriam suicidar-se, perante a derrota sofrida contra Júlio César, na batalha em Thapsus, às portas de Cartago, pela defesa da República Romana.

Se os romanos foram ajudados pelos hispânicos a rechaçar a presença cartaginesa, que avançara pelo seu território, tiveram depois que aguentar com as invasões romanas, especialmente depois da destruição de Cartago. Assim, os aliados romanos acabaram como províncias sob o domínio da águia imperial.  

Importa este texto para ilustrar como não foi dada terceira chance a Cartago. Aliás tudo foi conjugado para que os cartagineses tivessem que pegar em armas para hostilizar os vizinhos, e isso servir de pretexto para o desfecho final. Seria como se no final de ter pago a sua dívida, uma Alemanha renascida acabasse tentada economicamente a hostilizar de novo os seus vizinhos europeus e isso desse razão a novo conflito... 

Como catarse, a frase de Catão é intemporal. 
Nem é difícil pensar que a frase ganhara vida própria na retórica... ao fim de uma meia-dúzia de vezes, mesmo se Catão se esquecesse alguém o lembraria de terminar assim. 
Esse é outro ponto importante - quando o boneco público criado toma conta do criador. Ao fim de repetidas vezes, o prezar a coerência de funcionamento, pode tornar humanos em máquinas.

Bom, mas o motivo deste texto é simplesmente o começo de uma análise sobre a circunstância de uma eventual ligação entre Veneza, Sicília e Cartago, conforme sugerido pela Maria da Fonte.
Fui um pouco mais atrás, porque afinal não houve apenas a Batalha de Cannae, em 216 a.C., houve também a Batalha de Cannae em 1108.
A circunstância de se darem no mesmo local não é assim tão estranha - estrategicamente pode revelar-se conveniente em tempos distintos e tropas distintas. Talvez mais estranho é que, apesar da vitória bizantina, isso termina com a sua presença no Sul de Itália, a que sucede um longo período de ocupação Normanda.

domingo, 18 de janeiro de 2015

dos Comentários (14) - Cruzados nas Cruzadas

Deixo aqui um comentário da Maria da Fonte, com um excelente resumo de complicações Cruzadas.

----------
Estratégia Negra

1ª Cruzada - Pilha Constantinopla e pilha Niceia em 1096, supostamente neutralizada pelos Turcos. Um ano mais tarde, recupera Niceia que devolve a Bizâncio, e conquista Antióquia e Jerusalém.
Ou seja, troca de Niceia por Antioquia.
Em 1118, é Fundada a Ordem do Templo, com estatuto de privilégio onde figura a Isenção de Impostos, e que passa a ser o braço armado do Vaticano. 

2ª Cruzada - 1145, Os Normandos da Ingaterra e da Flandres, conquistam Lisboa, a porta de acesso ao Atlântico Sul, na época em que perdem a coroa de Inglaterra para Estevão de Blois, Conde de Bolonha. 
Em 1157, o Doge de Veneza Vitali II, funda o primeiro Banco. 

3 ª Cruzada - 1189-1192 Morte de Frederico Barba Ruiva, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Típica cilada!

4ª Cruzada - 1202-1204 Saque de Constantinopla e destruição de Bizâncio. 
O que permite a ascensão de Veneza, a Império que passa a deter o Monopólio do Comércio e do Tráfico com a Ásia e Oriente, e aliando-se mesmo aos assassinos Mongóis.
Cruzada contra o Languedoc 1208 - Destruição do Condado de Tolouse e da Casa de Cominges, que são obrigados a depender do Rei de França.

5ª Cruzada -1217-1221 Tentativa de conquista fracassada do Egipto.

6ª Cruzada - 1228-1229 Volte-face com Frederico II, do Sacro Império, excomungado pelo Papa, a conseguir Jerusalém, Belém e Nazaré, por dez anos.

7ª Cruzada -1248-1254 Nova tentativa de conquista do Egipto.

8ª Cruzada - 1270 Tentativa fracassada da conquista de Tunes, que no século anterior, estivera na posse da Gilda Ex-Fenícia da Normandia.

Nos anos que se seguem, a Ordem do Templo perderá todas as terras conquistadas para os Turcos.
Rodes é perdida em 1303.
Embora não tivessem conquistado nem Tunes nem o Egipto, a verdade é que Veneza detém a soberania do Mediterrâneo e controla a saída a Oriente.

Mas como nem tudo é perfeito, a Ocidente surge uma pequena imperfeição.
O Reino fundado em Portugal é pouco dado a devoções ao Papado Maçónico, e muito menos aos Mercadores Judeus de Veneza ou à Gilda Ex-Fenícia da Normandia.
E pior, navega pelo Atlântico sem dar satisfações a ninguém.

Consta mesmo, que a Rainha é Cátara, que têm uma Marinha chefiada por um Almirante, que os Navegadores são de Santiago e que o Reino está inundado de refugiados de Bizâncio, entre eles uma poderosa Princesa, muito dada a Navegações.

Ou seja detêm a INDEPENDÊNCIA, o que o Vaticano, a Nobreza Negra e a Gilda Ex-Fenícia combatiam.

Rodes caíra em 1303.
Em 1307, Vaticano e Templários erguem a falsa bandeira de perseguição que conduzirá à extinção da Ordem, entretanto inocentada pelo Papa, em Documento que se manterá secreto.
Com este Golpe, instalam-se em Portugal, onde já possuíam Terras e Castelos, na tentativa de controlarem os destinos do Reino, e apoderarem-se das Novas Terras.

Mas a Terra Brasilis, de onde os Portugueses traziam Madeiras exóticas Ouro, Prata e outras "Especiarias", só será divulgada décadas depois, numa época em que a intriga e a espionagem a cargo dos habituais castelhanos e dos bastardos com pretensões hegemónicas, tona impossível a manutenção do secretismo.

Em 1340, na sequência das práticas fraudulentas da Banca Veneziana que arrasta as suas congéneres de Florença, e que duram há décadas, dá-se o Grande Crash financeiro, que provocará o aparecimento da Peste Negra e levará a Europa à beira da destruição.
Precisamente durante o reinado de Dom Afonso IV, quando a descoberta do Brasil de Portugal é tornada pública.

Pelo meio, em 1212 fica uma Cruzada de Crianças, bem ao gosto dos satânicos intervenientes...

Se isto não foi Estratégia Negra, não sei o que possa ter sido.

_____________________________
Maria da Fonte (17 Janeiro 2015)

Cruzada das Crianças (1212)

sábado, 17 de janeiro de 2015

Reino do Terror

Após a "Revolução Francesa" seguiu-se um período denominado "Reino do Terror" que nos introduziu à França contemporânea. A Idade Contemporânea é, por ajustamento de agulhas à obstinação francesa, marcada pela tomada da Bastilha - uma prisão onde basicamente não havia presos. O acontecimento foi marcado por alguns actos sangrentos subsequentes, mas não foi esse o principal problema.
"É assim que punimos os traidores" (Panfleto de 1789)

Passados quatro anos de instabilidade política, os Jacobinos liderados por Robespierre, vão elevar a violência do Estado contra os cidadãos, a níveis que não eram lembrados.
Como as caricaturas não são de hoje, mas ilustram bem o problema, a que se segue dá conta de Robespierre a guilhotinar o carrasco, depois de ter mandado cortar todas as cabeças francesas.
Após cortar todas as cabeças francesas,
Robespierre guilhotina o carrasco.
Tempos de fanatismo e desespero, levam a esta frase icónica de Robespierre (1794): 
"O governo revolucionário é o despotismo da liberdade contra a tirania"
A contradição de noções, é o que permite a um déspota ser contra os déspotas, é o que permite ser paladino da liberdade prendendo os outros.

O que justifica o terror senão o terror?
Contra os "terroristas" que ameaçavam o seu governo revolucionário, aplicavam-se as leis "anti-terroristas" habituais - ou seja, legalizava-se o terror estatal.
É claro que, mesmo quando a ameaça terrorista não existe, querendo impor terror, inventam-se terroristas... e se os desgraçados nem têm sucesso, facilitam-se as coisas.
O Dr. Guillotin ficou eternamente famoso pela guilhotina revolucionária, e a Robespierre só faltaria juntar toda a França numa única cabeça, para a decapitar, conforme se entende da caricatura.

As execuções eram cumpridas na estrita observância da lei.
Os 16 mil guilhotinados em menos de 1 ano, mostram a eficácia de uma justiça célere.
Os processos não se arrastavam por anos, tudo era decidido eficazmente em poucos minutos, apesar do veredicto raramente diferir da guilhotina.
Portanto, sobre Terror, a França ensinou-nos da eficácia da justiça no cumprimento da legalidade.

O terror que as populações sentem por acção de grupos fora-da-lei é sempre muitíssimo menor do que o terror imposto pelo próprio Estado. Quando se é alvo de uma acção de banditismo, recorre-se ou espera-se pela acção da polícia. Porém, se o Estado usa a polícia, a quem se recorre quando o terror tem origem no próprio Estado?
Foi esse sentimento de impotência que os cidadãos franceses sentiram, quando passaram a vítimas do terror estatal de Robespierre, homem que lutava ardentemente contra o terror aristocrata. Qualquer frase inadequada ou mal interpretada, qualquer denúncia arbitrária, poderia levar um inocente para uma justiça rápida, de desfecho legal quase certo - a guilhotina.

Houve portugueses adeptos da Revolução Francesa, que receberam de braços abertos as tropas napoleónicas - uma versão mais branda desse terror estatal. Nem todos puderam fugir para o Brasil, e muitos "foram parar ao Maneta". O "maneta" era o General Loison, conhecido não só por pilhagens, como também por actos violentos que vitimaram os portugueses... de tal forma que a frase ainda hoje é usada como aviso de tempos antigos.

Na Europa, estas tendências têm tendência a propagar-se rapidamente, e não podemos considerar que estamos numa bolha isolados. As mais escandalosas violações de liberdade, em nome de um terror que se chama "anti-terror", levam à justiça, pela lei do terror legalizado.

Cada vez mais pela integração e subordinação a leis europeias, contaminadas por paranóias alheias, de novos Robespierres, estamos sempre com o risco de novo de ir parar ao Maneta.

Há novas vítimas de um terrorismo estatal que, embandeirando na liberdade de expressão, ataca a liberdade de expressão. 
Nada pior para uma mente fechada do que uma boca aberta.
Não há apenas os casos conhecidos, há casos mais parvos, que reflectem bem a loucura que tomou hoje conta de estados que não estão lá longe... não são regimes despóticos lá nas arábias ou nas coreias, estão bem metidos dentro da nossa porta e até se pretendem vestir com "as cores da liberdade".

____________________
Excerto da notícia em thelocal.fr (13/01/2015)
In Orleans a young man was handed a six month jail sentence for shouting "Long live the Kalashnikov" at a group of police officers in the city.
He was also ordered to pay €200 in compensation to each of the four police officers. He claimed he was drunk at the time, admitting that it was a stupid thing to say.
Robespierre parece reencarnado, vejamos a legalidade:
“We can’t back down an inch,” public prosecutor Patrice Michel told AFP.
“It’s the first time we’ve applied the law of 14 of November 2014 in our fight against terrorism.”
Dubbed the “French Patriot Act” by its opponents, the bill received the support of a majority of lawmakers in the Senate but was deemed “anti-democratic” by civil rights groups and some political parties who were wary of the extended powers it granted the government.
Parece haver esperança - há quem esteja contra! Será?
All this criticism came before the worst terror attacks France has seen in more than 50 years, so opinions and doubts over the divisive legislation have more than likely been silenced, at least for now.
Ah! O acto terrorista silenciou a oposição à lei que vinha de ser aprovada. Só dá razão a todos os Robespierres, avisados por Nostradamus, do eventual atentado, que veio mesmo a ocorrer! Coincidências complicadas.
Vejamos o que diz um advogado de defesa:
"There are 40,000 tweets out there expressing support for the terrorists," he told AFP. "What are we going to do with all these people? Are the French prisons ready to take in 40,000 people, because they made a bad joke on Twitter?"
Quarenta mil pessoas com mau sentido de humor? 
Isso não impediria Robespierre de lhes tirar o riso.
O que parece interessar é educar o humor... Más piadas - prisão com elas!

A loucura só termina quando a loucura sai da cabeça. 
Robespierre, antes de guilhotinar toda a França, foi guilhotinado.
De qualquer forma, acabando com todos os inimigos, perceberia que o único inimigo que restava era afinal a sua cabeça. Não haveria pois outro remédio.
A sua morte não apagou os seus crimes, nem os dos patrocinadores ou complacentes com a loucura jacobina... mas esse assunto recorrente é remetido para outras esferas. Para esferas onde o único inimigo que resta é o próprio, porque ao pé de si já não consegue prender ninguém. E o pior... é que já nem a própria cabeça terá, para cortar o mal.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Anacronismos

O que ensinam os livros sagrados?
Uns poucos exemplos...

Bíblia - Velho Testamento 
(Deuterómio 20, King James Bible)
And when the Lord thy God hath delivered it into thine hands, thou shalt smite every male thereof with the edge of the sword: But the women, and the little ones, and the cattle, and all that is in the city, even all the spoil thereof, shalt thou take unto thyself; and thou shalt eat the spoil of thine enemies, which the Lord thy God hath given thee. 
... ou seja, "quando o Senhor teu Deus tiver posto a espada nas tuas mãos, deves trespassar todos os machos pelo fio da espada, mas as mulheres e crianças, e o gado, e tudo mais na cidade, deves tomar para ti"... 

Parece muito drástico, mas o grande profeta judaico, Moisés, corrige: 
(Números 31, King James Bible)
And they warred against the Midianites, as the Lord commanded Moses; and they slew all the males. And they slew the kings of Midian, beside the rest of them that were slain; namely, Evi, and Rekem, and Zur, and Hur, and Reba, five kings of Midian: Balaam also the son of Beor they slew with the sword.And the children of Israel took all the women of Midian captives, and their little ones, and took the spoil of all their cattle, and all their flocks, and all their goods.And they burnt all their cities wherein they dwelt, and all their goodly castles, with fire.And they took all the spoil, and all the prey, both of men and of beasts.(...) And Moses said unto them, Have ye saved all the women alive? (...)Now therefore kill every male among the little ones, and kill every woman that hath known man by lying with him. But all the women children, that have not known a man by lying with him, keep alive for yourselves.
... ou seja, seguindo ordens divinas, para além de chacinarem todos os homens, incendiar as cidades, tomariam o espólio, mulheres e crianças. Porém, Moisés ficou indignado - deveriam ter também morto todas as mulheres e crianças, excepto as virgens. Só as virgens é que poderiam tomar como escravas.

Vê-se assim que só os profetas é que conheciam bem a vontade do Deus, e os ignorantes da vontade divina cumpriam mal as ordens.

Corão (5:33)
The punishment of those who wage war against Allah and His Messenger, and strive with might and main for mischief through the land is: execution, or crucifixion, or the cutting off of hands and feet from opposite sides, or exile from the land: that is their disgrace in this world, and a heavy punishment is theirs in the Hereafter; 
Com efeito, Maomé foi também um exemplar chefe militar, conduzindo uma centena de expedições militares, que iniciam o rápido sucesso conquistador dos árabes muçulmanos.
A sua tolerância com os sobreviventes é ilustrada na Batalha de Badr, onde de entre as hipóteses mencionadas no Corão (execução, crucifixação, cortar pés e mãos, ou exílio da terra), Maomé opta pela execução, conforme antiga ilustração onde é colocado a assistir à decapitação feita por Ali. A sucessão de Maomé por Ali (seu genro, casado com a filha Fátima) dividirá os ramos xiita e sunita. 
Maomé presidindo à decapitação de Nadr ibn al-Harith 
(pintura de Siyer-i_Nebi)

A citação do Corão é mais aplicável a outro episódio, onde são apanhados oito ladrões que teriam morto um muçulmano, e que para Maomé mereceram um destino mais cruel:
The accused were brought back and handed over to Muhammad. He had their hands and feet cut off and their eyes gouged out with hot iron, in recompense for their behaviour, and then they were thrown on the stony ground until they died.    (cf. wikipedia)
Portanto, para além das visões celestiais, atribuídas ao anjo Gabriel, pelos olhos de Maomé também terão passado visões infernais próprias, resultado de execuções a que presidiu. 

Anacronismos
Este tipo de eventos teve o seu contexto e o seu tempo.
Os textos, que foram conservados preciosamente na sua literalidade, mostram isso mesmo - valores e costumes que escandalizam hoje qualquer um, pela sua crueldade. A actuação de Maomé ou Moisés não terá sido muito diferente de tantos outros generais, nomeadamente de Júlio César, que também depois se pretendeu divino.

O problema é que estes textos preservando a sua literalidade, transportam para os tempos modernos actuações anacrónicas. Quando entendidos no contexto religioso, de inviolabilidade sagrada, transportam uma explícita aplicação da violência de épocas antigas para épocas modernas. 

A inviolabilidade sagrada dos textos é o legado que os sacerdotes herdaram e procuram preservar, porque é a mais valia hereditária que transportam. De certa forma, é como se uma família exibisse uma relíquia de ouro, e visse em cada dúvida à autenticidade do metal, uma dúvida à sua única riqueza. 
Por isso, é algo caricato invocar o conhecimento superficial dos leigos, já que o conhecimento efectivo, espalhado nas múltiplas traduções bíblicas e corânicas, também não será muito instrutivo para a educação dos jovens quando se apresentam literalmente actuações sangrentas de profetas divinizados e castigos medievais. 

É claro que os textos podem conter dados e informações relevantes, talvez até preciosas para alguns, mas pouco mais se vê do que obras literárias anacrónicas, por alguns tidas como encriptadas, mas que objectivamente trazem pesadelos antigos aos tempos modernos. E o principal foco desses conflitos acaba por ser o Médio Oriente, onde os guardiões dos textos judaicos e islâmicos mais são indefectíveis na sua herança ancestral, e mais nos transportam do presente para um passado cristalizado.

Para mais, transportam-nos para um passado de implantação regional, onde usaram violência. 
Os grandes acontecimentos cravados nestas histórias são muitas vezes pequenos acontecimentos, à escala de um pequeno grupo, de uma tribo familiar. As batalhas lidas e celebradas, pouco mais foram do que escaramuças que não entrariam em nenhum livro de história, não fosse o seu carácter religioso cristalizado no tempo. Porque os velhos foram seleccionando sempre os novos mais fiéis, que iriam manter o seu legado intocável, que iriam preservar aqueles momentos na memória. A sua legitimação era pelo passado, e era essa herança que teriam que respeitar. As posteriores batalhas, com centenas de milhares de soldados, ficaram esquecidas perante as celebradas escaramuças, por vezes com meia dúzia de bandidos ou opositores. 

Humanismo
O humanismo, que se implantou lentamente no Ocidente, não resultou apenas do cristianismo.
Também no Novo Testamento encontramos frases anacrónicas, algo controversas:
Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor ao senhor, não somente ao bom e humano, mas também ao mau (1ª Epístola de Pedro, 2:18)
E se isto pode ser enquadrado na perseguição cristã, onde uma revolta de escravos poderia levar a uma dizimação do movimento cristão, tomando esta frase solta, surge como uma anacrónica recomendação de submissão servil. É claro que este tipo de mensagem serviria muito mais o interesse apaziguador dos romanos, que evitaram assim as revoltas de escravos pela filosofia incrustrada.
Há várias outras frases controversas, entre as quais (Mateus 10:34)
Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas a espada. Com efeito, vim contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra. Em suma: os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. 
Este texto é claramente anacrónico, pois é dirigido aos jovens de uma época, colocando-os em confronto com os ideais dos seus pais, que na sua maioria não seriam cristãos. A espada pode ter aqui um valor simbólico, mas será também pelo fio da espada que o cristianismo se irá impor, que irá dividir as crenças judaicas e depois as gentias. 

A cativação de novas ideias é sempre procurada pelos elementos mais jovens. São eles os que aparecem dispostos a questionar o mundo onde foram colocados, independentemente de se tratar de um mundo mais ou menos justo. Sempre que a sociedade tende a marginalizar os jovens, não lhes vislumbrando melhor futuro, está inerentemente a criar um grande caldo que pode ser aproveitado para extremismos.
Se a sociedade é democrática, o contraponto em convite será de um extremismo totalitário, se a sociedade for totalitária, o apelo será ligarem-se a movimentos democratas. Isto é usado com a sábia manipulação dos velhos, prontos a encontrar soldados para as suas guerras. Apresenta-se o fruto iluminado, prometendo a maçã proibida, e o jovem raramente se interroga sobre a sombra, que inevitavelmente está do outro lado da luz. Motivado para iluminar a maçã, dificilmente questionará se a maçã pode ou não ter luz própria, dificilmente perguntará se é possível haver um mundo sem sombras, onde cada objecto tenha a sua própria luz. Esquece que por mais intensa que seja a luz que ilumina, mais cavada será a sombra que deixa atrás. Os profetas, querendo iluminar como estrelas, acabaram simplesmente por deixar uma enorme sombra atrás de si.

O humanismo, desprendido de outras crenças particulares que o ajudaram a solidificar, acabou por ser a luz que melhor iluminou as almas. Esse legado universal, surgiu como uma luz tanto mais consensual, quando se libertou de uma nomeação apontada a uma estrela. E sempre que se quiser nomear um Sol para iluminar melhor o dia, haverá a cada volta uma noite que nos espera.
Simplesmente porque um mundo sem sombras, é um mundo onde cada um ganha luz própria. Não é um mundo de sóis que atraem planetas (em grego, vagabundos) para a sua órbita.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Roger. Bacon and Eggs.

Uma componente que caracterizava os pequenos-almoços ingleses, por diferença ao menos substancial "continental breakfast", era a presença de toucinho e ovos. Hoje pouco se fala em "toucinho fumado", e adoptou-se o anglicismo "bacon".
Por outro lado, Roger Bacon chamou "philosophical egg" à pedra filosofal... e este ovo de Bacon foi cozinhado numa estranha receita encriptada:
How to make the Philosophee's Egg (or Stoke) and Gunpowder.
Six hundred and thirty years of the Arabs being finished, I respond to your petition in this manner...
Let there be taken of the bones of Ada, and of lime, the same weight; and let there be six at the stone of Tagus, and five at the stone of union; and let them be rubbed up at the same time with water of life, whose property it is to dissolve all other things, so that they may be dissolved in it and cooked together. And let this rubbing and cooking be repeated until they are incerated; that is, that the parts may be united as in wax. And the sign of inceration is, that the medicine liquefies over intensely glowing iron. Then let it be placed in the same water in a hot and damp place, or suspended in the steam of very hot water; then let them be dissolved and hardened in the sun. Then you are to take saltpeter, and pour quicksilver upon lead, and again wash and cleanse the lead with it so that it may be very near to silver, and then operate as before. Also let the whole weight be thirty. But yet of saltpeter LUBU VOPO VIR CAN UTRIET of sulphur; and thus you may make thunder and lightning, if you know the method of construction. 
O estranho cozinhado de Bacon encontra-se numa carta sua enviada no Séc. XIII a um certo William, de Paris, aparecendo com o título geral "Non existence of Magic". 
Não é propriamente este conteúdo enigmático que nos interessa, nem tão pouco a menção a um único local, o Tejo, porque o "estarem seis na pedra do Tejo", poderia remeter-nos a uma passagem das quinas a sinas, ou a chinas, algo de que já falámos, ou à própria sina, cujo sinónimo é fado. 
Aliás, Bacon continua, esclarecendo se é ali verdadeiro, ou simplesmente enigmático...
You can see, nevertheless, whether I speak enigmatically or truthfully. And some may have judged otherwise.
For it has been said to me that you ought to resolve everything into a primal material, on which you have two deliverances from Aristotle in his popularized and famous book ; on account of which I am silent. And when you have possessed yourself of that, then you will have pure elements, simple and equal ; and you may do this by contrary means and various operations, which I have before called the Keys of Art. And Aristotle says that equality of powers excludes action, and passion, and corruption. And Averroes says this in reprobation of Galen. And that is rated simpler in medicine, and purer, which can be procured ; and this is worth more against fevers, and affections of the mind and body.

Farewell. 
And whoever shall have opened these things will have the key which opens them, ahd no one may shut it ; and when he shall have shut it no one may open it. 
O que mais nos interessa nesta carta de Bacon é o assumir do "secretismo dos sábios". Portanto, se há uma grande teoria da conspiração contra a população ela está bem explícita neste texto medieval, com a justificação esperada - se à "populaça" fossem dados os conhecimentos secretos, grandes perigos resultariam, e por isso, desde o início (presume-se desde o momento em que "correu mal") os "sábios", os "magos", teriam escondido de muitas formas os segredos do conhecimento da ameaçadora populaça.  
And so it is insane that anything secret should be written down unless it be concealed from the populace, and with difficulty understood by the most studious and the wise.
So has run all the multitude of the wise from the beginning, and it has hidden in many ways the secrets of wisdom from the populace. For some have hidden many things by characters and charms, others by enigmatic and figuratiye words, as Aristotle in the book of Secrets saying to Alexander : "
O Alexander, I wish to show you the greatest secret of secrets, and the divine power shall aid you to conceal the mystery, and to execute the design. Take, therefore, the stone which is not a stone, and it is in what man you will, and what place you will, and what time you will; and it is called the philosopher's egg, and the terminus of the egg." And thus innumerable things are found in many books and various sciences, obscured by such speeches, so that they cannot in any way be understood without a teacher. 
Assim, é por via de Aristóteles que Bacon fala do ovo... ou pedra filosofal. Afinal, uma pedra que não é uma pedra, que está em qualquer homem, em qualquer lugar, em qualquer tempo... pouco mais poderia ser que a própria abstracção humana (ilustrado no poema de Gedeão "Pedra Filosofal" como sendo a essência do sonho). De facto, a descrição aristotélica remete bem para a essência constituinte universal, englobando tudo o que é identificável... se a pedra, ao jeito do átomo de Demócrito, poderia simbolizar o constituinte fundamental de toda a matéria, faltariam sempre os constituintes abstractos, do espaço, do tempo, ou mais simplesmente, faltaria o constituinte das ideias humanas. 

Mas não interessa aqui tanto os aspectos ontológicos da filosofia, especialmente debatidos na época medieval, quando houve um efectivo negar da tecnologia, em estilos de vida semelhantes aos ainda hoje defendidos pelos amish ou, em menor escala, procurados pelos movimentos hippies. E sobre este aspecto, também o texto de Bacon não é escasso em "revelações"... falando em carruagens que se moveriam a grande velocidade sem auxílio de animais, em barcos sem remadores, conduzidos por um só homem, ou ainda em "máquinas de voar":
For instruments of navigation can be made without men as rowers, so that the largest ships, river and ocean, may be borne on, with the guidance of one man, with greater speed than if full of men. Also carriages can be made so that without an animal they may be moved with incalculable speed; as we may assume the scythed chariots to have been, with which battles were fought in ancient times. Also instruments for flying can be made, so that a man may sit in the middle of the instrument, revolving some contrivance by which wings artificially constructed may beat the air, in the manner of a bird flying.
Tudo isto, e mais, poderia ser classificado no domínio da simples hipótese especulativa de um monge inglês alucinado. Porém, ele simplesmente confirma a existência passada e contemporânea a si, por testemunho directo, colocando apenas excepção à "máquina voadora", que não teria visto pessoalmente. 
These things were done in ancient times, and are done in our own, as is certain, unless it may be the instrument for flying, which I have not seen, nor do I know any man who has seen; but I know that the wise man who planned this device completed it. And such things can be made almost infinitely, as bridges across rivers without pillars or any other support, and machines, and unheard-of devices. 
Talvez o relato mais credível que lhe é apontado será sobre lentes ópticas, onde seguirá trabalhos anteriores (nomeadamente do sábio persa Alhazen

Não será o primeiro a afirmar que seria possível construir lentes que permitiriam ler o mais pequeno texto a grande distância, e certamente que outros trabalhos sobre óptica indiciaram o mesmo conhecimento. Acrescenta que Júlio César teria usado essas lunetas ou telescópios para inspeccionar os castelos na costa inglesa (referindo-se certamente à vista de Dover a partir de Calais). 
For glasses can be so constructed that things placed very far off may appear very near, and vice versa; so that from an incredible distance we may read the minutest letters, and number things however little, and make the stars appear where we will. For thus it is believed that Julius Caesar, on the shore of the sea in Gaul, discovered through huge glasses the disposition and sites of the castles and towns of Great Britain. 
É assim neste contexto que Roger Bacon afirma a presença de um conhecimento secreto, ausente da população, mas detido desde a Antiguidade por "sábios". Este conhecimento iria aparecer, ou reaparecer, logo no final da Idade Média... por exemplo, com o uso de óculos por monges, ou com uma maior difusão da pólvora, que iria marcar as guerras na Idade Moderna, no advento dos descobrimentos. Conforme ilustrado na charada sobre o ovo de Colombo, o término do ovo seria quebrado, para acomodar a farsa evolutiva seguinte.
A observação a posteriori é sempre muito simples. Porém, uma coisa é ver o resultado, outra coisa é ver o caminho. E entre tanto ver, há diversas coisas que não poderiam deixar de ser vistas...

A historieta ensinada aos petizes, conta sobre a invenção do telescópio em 1609 por Galileu, mas o nome de Galileu foi um dos vários escolhidos para contar uma estória. É hoje aceite que havia várias tentativas de registo de patente na Holanda em 1608, e por isso Galileu passa por tê-lo "aperfeiçoado" (sabe-se hoje que nem terá sido o primeiro a reclamar ter visto as luas de Júpiter). Afinal, a razão pela qual tanta coisa começou a ser descoberta na "Holanda", na França, Inglaterra, Escócia, etc... tem muito simplesmente a ver com a libertação da proibição papal, conseguida a custo da Guerra dos Trinta Anos. 
A "caixa de Pandora" estaria de novo acessível, não tanto pela sua consulta directa, mas por uma certa permissão para "redescobrir" em certos territórios menos católicos. Assim, as velhas invenções passaram para novos inventores, e a época dos grandes génios, saídos da lâmpada, era autorizada. 
Não era autorizada por completo, pois o salto de canguru para a Austrália, só foi outorgado mais tarde, na altura em que foram soltas as diversas maquinetas que alimentariam a revolução industrial seguinte. Nesta fase, já a caixa de Pandora estaria entregue também à nova associação de guardadores de segredos - a maçonaria, que actuaria nesses países em substituição do antigo controlo papal, através dos seus monges e das suas bulas (aliás "bull sheet" é literalmente uma "folha da bula").

Para terminar, relembramos o episódio do incêndio da frota romana pelos espelhos de Arquimedes.
Esse episódio foi relatado pelo arquitecto de Hagia Sophia, portanto muitos séculos depois, e temos aqui uma ilustração do evento:

O espelho incinerador de Arquimedes - pintura de Giulio Parigi (c. 1600).

O que interessa deste facto é muito simples.
Se Arquimedes tivesse feito um espelho capaz de incendiar o que quer que fosse... também teria construído o espelho parabólico de um telescópio... porque são iguais, ou aliás, seria até mais simples o espelho do telescópio atribuído depois a Newton.

A questão importante aqui é que é reconhecido que havia na Antiguidade lentes capazes de incendiar, mas não é reconhecida a existência de lupas, ou outras lentes ópticas ampliadoras.
Portanto, o grotesco, o absurdo, o caricato, é que se admite que os romanos usavam lupas ou espelhos para atear fogo, mas... espante-se a populaça, ninguém olhava para elas, desconhecendo afinal que ampliavam!!

Sim, havia lentes, na forma de lupas, como o caso da lente de Nimrud, das lentes de Visby ou muitos outros casos (ver apontamento em www.ancient-wisdom.co.uk/optics.htm).
Lente viking (Visby, ilha de Gotland, Suécia)
No entanto, já sabemos as possibilidades:
- na versão oficial, são normalmente consideradas "coisas" decorativas... e assim apesar de até servirem para se olhar para elas, ninguém repararia que ampliavam.
- na versão History Channel, provavelmente seriam dadas como coisas de extraterrestres. 

Quem conhecer minimamente o processo de fabricar vidro, perceberá que uma situação comum seria a de obter vidros que deformassem, e em particular que ampliassem ou reduzissem. Por isso, desde que o vidro foi fabricado, as lentes seriam conhecidas, perdendo-se tal conhecimento na noite dos tempos. 
Quando o vidro era fabricado com a qualidade que os Romanos exibiram (ver texto anterior sobre a Taça Licurgo), o que seria de esperar, seriam lentes de grande qualidade e precisão, rivalizando certamente com os telescópios do Séc. XIX.  

Roger Bacon explicava-nos esta necessidade de manter a populaça desinformada, e o seu homónimo, Francis Bacon, conselheiro privilegiado de Isabel I, foi depois um grande promotor do método científico. O passo para abrir o conhecimento a uma parte alargada da população iria sendo dado, pouco a pouco. Da ocultação total e obscurantismo medieval, a caixa de Pandora foi sendo aberta de novo, provavelmente porque houve resultados que suplantaram os antigos, porque foram definidas formas de conter a ameaça gentia. Afinal, mantendo os génios entretidos no seu ofício, funcionariam como máquinas, cuja função seria o simples acrescentar de novos "brinquedos", a troco da cenoura de um certo reconhecimento individual. O sábio medieval, praticamente anónimo, daria lugar a uma fabricação de estrelas científicas e intelectuais. As estrelas de referência, de renome, orientariam os olhos e os passos da caminhada dos novos petizes, que os procurariam imitar, bajular, etc.
Roger that, Bacon.