Alvor-Silves

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Noites de insomnia (Camilo)

Durante algum tempo fiz algum esforço de procurar material histórico que me permitisse compreender o problema que levou a tão pesada ocultação e ao persistente condicionamento educacional, até aos dias de hoje. Já deixei de fazer isso, pois a justificação que aqui fui deixando, e elaborando, está basicamente concluída.
Penso ainda colocar aqui alguns documentos relevantes, uns que acabei por esquecer, outros que encontro acidentalmente, como será esta posta de Camilo Castelo Branco e a sua resposta.

Para o que interessa em termos de conclusões, releva o encobrimento dos descobrimentos. Essa é a parte mais extensa, iniciada com aquilo a que denominei a "Tese de Alvor-Silves", há dois anos e meio. Podem haver mais detalhes, mas o importante são as óbvias contradições históricas, mesmo sem abandonar o "registo oficial". Às contradições históricas acrescentam-se as contradições lógicas, e de bom senso.
Interessa ainda o material adicional, etiquetado como "Questão Gaia", que mostra que o encobrimento histórico foi algo mais profundo, tendo raízes na Antiguidade... ou seja, desde que há "História". O mundo antigo ocidental ficou com fronteiras condicionadas à periferia do Mar Mediterrâneo, e isolado das restantes civilizações, sem que haja razão objectiva que justifique isso, excepto um condicionamento imposto.

Ilustrando como é irrelevante adicionar demasiados detalhes, é bom mencionar o apontamento que Camilo Castelo Branco introduz no nº1 nas suas "Noites de insomnia", num texto denominado "Problema Histórico a Prémio". Criticando o livro de Miguel Dantas (*) que enumera os "falsos D. Sebastião", aparece com três documentos de três papas (Clemente VIII, Paulo V e Urbano VIII).
(*) Também aparece como Miguel d'Antas. A este Dantas seguir-se-à outro Dantas, 
Júlio Dantas, contra quem Almada Negreiros será bastante virulento.

Abreviando, citamos a missiva de Urbano VIII, que menciona as anteriores:
«Urbano VIII por Divina Providencia Bispo de Roma, Servo dos Servos de Deus. A todos os Arcebispos e Bispos e pessoas constituidas com dignidade que vivem debaixo do amparo da Igreja Catholica, em especial aos do Reyno de Portugal e suas conquistas, saude e paz em Jesus Christo nosso Salvador que de todos é verdadeiro remedio e salvaçaõ: Fazemos saber que por parte do nosso filho D. Sebastião Rey de Portugal nos foi aprezentado pessoalmente no Castello de Sancto Angelo duas sentenças de Clemente Outavo e Paulo Quinto nossos antecessores, ambas encorporadas, em que constava estar justificado largamente ser o proprio Rey e nesta conformidade estava sentenciado para lh'o largar Felipe 3.o Rey de Hespanha, ao que não quiz nunca satisfazer; pedindo-nos agora tornassemos de novo a examinar os processos, e constando ser o proprio o mandassemos com effeito investir da posse do Reyno, pois tinha filhos e mulher, e não podia perder seus direitos, que prejudicava a seus herdeiros, o que mandamos brevemente e por extenso vêr como convinha em cazo de tanta importancia; e considerando como nos convem julgar e detreminar a cauza dos Principes christãos, mandando dar vista a Felipe Quarto que hoje vive, cometendo a cauza ao Imperador, e a ElRey de Inglaterra e a ElRey de França, com o que se passou e se resolveu que lhe desse posse do Reyno de Portugal; e hora por parte do dito Rey D. Sebastião nos foi pedido pozessemos o cumpra-se na sentença, e mandassemos passar nosso Breve Appostolico com excommunhão rezervada a nós para que nenhum fiel christaõ lhe impida sua posse, nem tome armas offensivas contra elle e seus soldados e Ministros; e vendo nós com os nossos Cardiaes do nosso Conselho sua justiça, com maduro conselho lh'o concedemos: pelo que vos mandamos que depois da notificação desta a nove mezes primeiros seguintes que assignamos pelas trez canonicas admoestaçoens, dando repartidamente trez mezes por cada canonica admoestaçaõ, termo peremptorio, tanto que vos for apresentado e da minha parte mandado, façaes por vossos religiosos assim Seculares como Regulares publicar-se nos pulpitos das egrejas e praças publicas que ...[parte ilegível pela humidade do original]. Dada em esta Curia Romana sob o signal do Pescador aos 20 de outubro de 1630.»
Deixamos as outras duas missivas papais em comentário a esta posta, assim como a resposta de um leitor, publicada no número seguinte. Essa resposta anónima é bastante irónica, podendo até conjecturar-se uma autoria do próprio Camilo. Citamos uma parte elucidativa do tom:
Os documentos pontificios que vossê apresentou resistiriam á critica de João Pedro Ribeiro e Theophilo Braga. Este sabio e vossê são os dous homens que n'este seculo tem achado as melhores peças historicas. Vossê achou as sentenças a favor do Encoberto; o doutor Theophilo achou a carta de Ayres Barbosa a André de Rezende. Eu achei a vossês, os dous, dous odres de sciencia em que espero exercitar o meu intellecto como os touros exercitam a força nos ôdres de vento. Creio que está dada a solução do problema historico. Mande-me o premio pelo portador.
Independentemente dos mimos, que o correspondente estende não apenas a Camilo e a Teófilo Braga, mas também a Guerra Junqueiro, Eça e Ortigão, "conferencistas de Casino" e "demais socialistas"... as referidas missivas papais foram entretanto "desacreditadas". 
Essa "desacreditação" encontrei como inscrita em nota na Sebástica (pág. 39), de Vitor Amaral Oliveira (2002):
A propósito do falso D. Sebastião de Veneza, que Miguel D'Antas dá como tendo sido enforcado em 1603, Camilo possuía uma "sentença" de vários Papas que viram este falso rei e emite a hipótese de um 5º falso D. Sebastião.
É a transcrição dos três "Breves" fictícios de Clemente VIII (1598), Paulo V (1617), e Urbano VII (1630), já desmascarados como sendo talvez obras dos Jesuítas a favor de D. João IV.
A intervenção pombalina foi particularmente bem sucedida em desacreditar a documentação dos Jesuítas, e facilmente se desenvolveram apreciações automáticas. No caso em concreto, parece-me "demasiada fruta" a existência de 3 breves papais, com conteúdo tão sucinto e contundente. Apesar de não descurar a hipótese da sobrevivência de D. Sebastião, e um nefasto tratamento subsequente, não apostaria na validade destas missivas papais, e creio que Camilo Castelo Branco também não fez questão disso... procurou mais revelar a sua existência, negligenciada no livro de Dantas. Por vezes é pior caminho negligenciar a documentação do que revelar razões plausíveis para a sua implausibilidade. Aqui o favorecimento a D. João IV é razoavelmente dúbio, já que o monarca se viu obrigado a condicionar a sua legitimidade a um eventual reaparecimento de D. Sebastião. Estas "provas de vida" de D. Sebastião condicionariam essa mesma legitimidade de D. João IV, caso se apresentasse algum herdeiro legítimo...

No entanto, e como há sempre algo mal explicado, relembramos a gravura constante na Biblioteca Nacional (ref. 669807) que tem como título:

"Morte del Re di Portogalli condanatta dall'Inquisizione l'anno 1628"

Conforme dizia Camilo: "Não podia ser o rei da Ericeira, nem o rei de Penamacor, nem o pasteleiro do Escurial, nem Marco Tullio Catizone. Os quatros impostores eram já mortos. Então quem era?".
De facto, em 1628, não poderia ser nenhum destes, de acordo com o apurado...
Mas então em 1630, a breve do Papa Urbano VIII não faz sentido, estando este "D. Sebastião" morto em 1628, por julgamento da Inquisição, conforme ilustrava a gravura da época. Não há nenhum registo de impostor tão verosímel (ao ponto de merecer gravura como "Rei de Portugal"), condenado apenas em 1628...
Ora, há uma história fácil de contar, que engloba estes dados. Admitindo a sobrevivência de D. Sebastião, e o empenho de alguns fiéis patriotas, houve diligências junto dos papas para estas missivas. Tanto Clemente VIII, como Paulo V, podem ter acedido a estas "breves" diligências, perante alguma incomodidade de pressões na Igreja, se o caso fosse de clara legitimidade do defensor da fé, D. Sebastião.
Convém lembrar que a clara oposição de Filipe III ao papa Leão XI (sucessor de Clemente VIII) talvez não se possa desligar dos seus curtos 26 dias de papado.
E se o sucessor, Paulo V envia a missiva em 1617, também devemos perceber que no ano seguinte se inicia a Guerra dos Trinta Anos, e não seria tempo de cisões no lado católico, face à "ameaça protestante".

A situação no final do pontificado de Paulo V, depois com Gregório XV, e especialmente com Urbano VIII já é completamente diferente... ou seja, a ligação entre os Habsburgo e Urbano VIII era de clara cumplicidade. Por isso, não seria tanto de estranhar que Urbano VIII terminasse em 1628 com o incómodo "D. Sebastião" num julgamento inquisitório, e ao mesmo tempo enviasse uma missiva, em tom semelhante às dos seus predecessores, atestando a presença, de um fantasma, em 1630. Consta haver um provérbio romano sobre Urbano VIII (Mafeo Barberini): "o que os bárbaros não fizeram, fez Barberini", relativamente a grandes destruições ocorridas em Roma no seu pontificado, que ocultaram o legado romano. Por isso, dada a índole, não seria propriamente surpreendente que o próprio Barberini decidisse enviar uma missiva de despiste, relativamente à sua actuação na condenação de 1628.

Enquanto episódio no contexto global, não é demasiado relevante saber se D. Sebastião morreu em Laracha ou se foi vítima de posteriores larachas inquisitórias. Serve apenas como episódio de dúvida adicional no secretismo de que se alimentam os poderes fugazes. Podem até vir a ser encontrados outros documentos, num sentido ou noutro... mas, sem vontade de verdade, o erro será tentar impor argumentos a quem criou automatismos para os rejeitar. 
Pelas suas contradições evidentes e mal explicadas, a História não passa de uma história, escrita por contadores de contos, e propalada pelos bardos de serviço que a cantam oficialmente às criancinhas. Não vale a pena discutir os factos de uma história quando ela mistura a ficção com a realidade... é apenas uma criação artística, de qualidade e bom gosto muito discutíveis.

domingo, 3 de junho de 2012

A viagem ao Brasil em 1498

Ao fim de muito tempo, vi ontem, pela primeira vez em televisão, alguém referir-se à descoberta do Brasil em 1498 por Duarte Pacheco Pereira. Quem o fez foi Miguel Sousa Tavares, respondendo à pergunta final num programa da SIC-Notícias, chamado "Conversas Improváveis".

O incidente é isolado e nada tem de especial, para além de ir completamente contra a versão oficial, que atribui o relato de descoberta à viagem de Pedro Álvares Cabral em 1500.
A tese deveria ser largamente conhecida desde a publicação do Esmeraldo de Situ Orbis em 1892, por Raphael Basto, conservador da Torre do Tombo. Mais conhecida ainda quando Jorge Couto em 1995 sustentou a tese dessa descoberta anterior, com documentação adicional. Jorge Couto é uma figura reconhecida, tendo sido presidente do Instituto Camões e director da Biblioteca Nacional (2005-2011).
No entanto, apesar disso, que eu saiba, a tese de 1500 nunca foi beliscada em comunicações públicas, para uma larga plateia, por exemplo em televisão. Assim, a demonstração por Jorge Couto da viagem de Duarte Pacheco Pereira, em 1498, passa ao lado do folclore oficial, e de todo o comentário ou discussão, ao longo dos últimos 20 anos. Nada de estranhar, pois já teria passado ao lado da discussão do grande público durante todo o Séc. XX. Afinal, passam já 120 anos desde a publicação por Raphael Basto, que confrontou dois exemplares do Esmeraldo de Situ Orbis. Os exemplares estavam incompletos, sem nenhum dos 16 mapas (vistos na biblioteca dos Marqueses de Abrantes), e aparentemente em Setembro de 1844, para além da lei sobre funerais que originou depois a Revolta da Maria da Fonte, também houve uma portaria que retirou o livro da Biblioteca de Évora.
O detalhe da descoberta do Brasil em 1498, inscrito no livro, não passou obviamente despercebido, pois é referido pelo próprio inspector em 1891, na primeira página.

A afirmação que Duarte Pacheco Pereira dirige a D. Manuel é esta:
(...) alem do que dito é, a experiência que é madre das coisas nos desengana & de toda duvida nos tira & portanto bem aventurado Principe temos sabido & visto como no terceiro ano de vosso Reinado do ano de nosso senhor de mil quatrocentos noventa & oito donde nos vossa alteza mandou descobrir a parte ocidental passando alem a grandeza do mar oceano onde é achada & navegada uma tão grande terra firme com muitas & grandes ilhas adjacentes a ela que se estende a setenta graus de ladeza da linha equinocial contra o polo artico  & posto que seja assaz fora é grandemente pauorada, & do mesmo circulo equinocial toma outra vez & vai além em vinte & oito graus & meio de ladeza contra o polo antartico (...)

Fica completamente claro que Duarte Pacheco Pereira ao referir-se a uma extensão de terra firme que vai da latitude 70ºN (Gronelândia, Norte do Canadá) a 28ºS (Rio Grande do Sul, Brasil), dá logo no ano de 1506 uma informação demasiado detalhada sobre o que se conhecia da América. Aliás, dá informações precisas sobre a parte da América que estaria destinada dentro do Hemisfério português, de acordo com o Tratado de Tordesilhas. Isto praticamente mostra que o conhecimento do continente americano era completo, antes mesmo do nome América ter sido associado a Alberico Vespúcio. Dizer que 1498 é a data da primeira viagem ao Brasil apenas peca por ser tão escasso quanto tudo o que esconde essa afirmação e que Duarte Pacheco Pereira revela.

Quando falei do Esmeraldo de Situ Orbis, em 17 de Dezembro de 2009, no Knol da Google, escrevi o seguinte:

Duarte Pacheco Pereira não tem problema em atribuir navegações, para o contorno costeiro de África - aos gregos e fenícios... e até se atribuem navegações atlânticas aos fenícios!
Porquê?... porque isso não era nada, comparado com as navegações nacionais!
Duarte Pacheco Pereira, no seu "Esmeraldo de Situ Orbis", é bastante claro a esse respeito... mas também diz que teve o cuidado de preparar essa obra convenientemente, pois D. Manuel quereria "fiar-se" do que iria escrever... e, mesmo assim, a obra esteve perdida até ao Séc. XIX.
Tem um pequeno descuido, onde diz explicitamente que navegou para o Brasil, a mando de D. Manuel em 1498, mas isso é um detalhe sem qualquer importância, face a tudo o resto que nos consegue dizer - para quem o queira ler a sério!

Nessa altura procurei ligar a descrição da Costa de África à descrição da Costa Americana
Paralelismo África-América (Tese de Alvor-Silves, Dezembro 2009)

Vim na altura a saber (pelo José Manuel-CH) que a Duquesa de Medina-Sidonia, Luisa Alvarez de Toledo tinha argumentado no mesmo sentido no livro Africa versus America.

Provavelmente, caso fosse hoje, nem teria escrito nada acerca desse paralelismo... simplesmente porque é difícil sustentar a tese baseando-nos apenas na leitura de textos antigos, já que facilmente se poderá contra-argumentar que se tratam de coincidências interpretativas, sem usar outras provas.
Se usei aqui muitas interpretações, e fui avançando com diversas possibilidades, elas foram sendo sustentadas cada vez mais em citações literais, e factos documentais. Inicialmente não fazia ideia de que existisse tanta matéria "escondida com o rabo de fora", e por isso ainda procurava estabelecer relações fugazes, que pouco a pouco deixaram de ser fugazes... 

Quebrada a confiança com o conhecimento oficial, aquilo que escrevi sofre de toda a incerteza sobre as fontes e sobre a interpretação que fazemos delas. As diversas hipóteses que fui escrevendo resultam de tentativas parciais de encontrar nexo lógico, sem desacreditar tudo o que nos foi transmitido. O formato de blog tem a vantagem de não pretender ser mais do que uma interpretação escrita naquela data, em face da conjugação dos diversos dados acumulados, procurando focar mais no nexo lógico global do que no detalhes contraditórios.
Afinal, o que podemos saber resulta apenas do que nos é dado a saber... nada mais do que isso.
A maioria dos textos a que temos acesso é posterior à Idade Média, e muito tempo terá havido para definir o conhecimento que se divulgaria e o que iria ser ocultado. O povo nasce órfão de informação antiga... mal conhecemos os nomes dos trisavós, e poucas famílias passaram no seu seio histórias anteriores ao Séc. XIX. A partir daí fica só a confiança na cultura comum aprendida na escola formadora de mentes... Mesmo sobre monumentos/livros, devemos contar com reconstruções/ reedições, com a boa-fé dos criadores/autores, etc.
Quebrada a confiança, a grande certeza é a incerteza... e se dela não se livra o povo, órfão de antigos legados familiares, também não estarão muito mais seguros os depositários de conhecimento mais antigo. Afinal, têm que contar que a informação nunca foi alterada, coisa algo difícil de assumir mesmo em casas reais europeias, cujo legado teve múltiplas oscilações, e dificilmente chega ao Séc. X d.C. Indo mais longe, o registo perde-se nos legados religiosos. 
De qualquer forma, esquecendo o encobrimento nas descobertas arqueológicas, não há aparentemente um registo fiável para além das civilizações egípcias ou mesopotâmicas... como se os nossos anteriores antepassados nada nos tivessem querido deixar de importante. 
E, no entanto, em todos os povos parece ter havido a necessidade de transmitir um legado, não tanto uma história factual, mas antes uma tradição cultural religiosa, cujo significado primeiro se perdeu. A excepção parece ser a tradição hebraica, já que o Velho Testamento engloba também uma história do povo.
Vemos assim que o conhecimento que foi passando, não apagado entre gerações, foi uma mensagem religiosa autorizada. As histórias de heróis deveriam ser igualmente populares, mas retirando personagens divinos, poucas ficaram nos mitos, e talvez Hércules seja a excepção humana.
As novas gerações nasciam com conhecimento restrito, com pouco mais do que recebiam dos pais,  quase ignorando os avós. Quando isso acontece a evolução é normalmente pequena, e os jovens arriscam a fazer apenas uma repetição do percurso dos progenitores, sem acumular inovação no conhecimento. Isso seria tanto mais efectivo quanto as imposições religiosas visassem condicionar o progresso do conhecimento. A motivação poderia ser simplesmente manter o maior conhecimento na pequena elite reinante, para facilitar o controlo. No entanto, essa estagnação cultural funciona localmente, permite manter uma elite tribal, pelas condicionantes e proibições, mas não aguenta o embate com outra civilização em que o progresso de conhecimento seja mais valorizado e generalizado. Basta ver que em pouco mais de 200 anos de difusão de conhecimento, passámos de carruagens para aviões e foguetões....
Na tentativa de preservar a ordem, mantendo a habitual distância entre o conhecimento da elite e o conhecimento popular, compromete-se o progresso e a sociedade cairá no vício de estagnação, alimentado por sucessivas imposições e proibições, tal como nas primitivas sociedades tribais condicionadas pela religiosidade e tradição cultural fechada.

No santuário de Delfos haveria a inscrição "conhece-te a ti mesmo"... e sem dúvida que esse é o primeiro passo do homem, mas depois deve ser aplicado aos homens em conjunto, na sua unidade de conhecimento. 
Enquanto não percebermos o que fomos, o que nos condicionou e condiciona, dificilmente podemos definir o que devemos ser, funcionando como uma hidra insana... com múltiplas cabeças não coordenadas, competindo pelo controlo do mesmo corpo.
Temos até um exemplo interno... se os nossos hemisférios cerebrais direito e esquerdo funcionassem isoladamente e competitivamente, desconfiando um do outro, mentindo um ao outro... alguma vez teríamos tido sucesso enquanto organismo?