segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Cunhas com outras unhas

O ano passado publiquei aqui um postal sobre o Canal História e a inenarrável saga Alienada, que vai continuando a divulgar uma catadupa de disparates, mas... que ao mesmo tempo permite saber de algumas coisas, que doutra forma estariam normalmente fora dos circuitos de divulgação convencionais.

Foi assim que tomei conhecimento de um achado de que desconhecia a existência:
O recipiente de Fuente Magna (Lago Titicaca, Bolivia) 

Terá sido por volta de 1960 que o arqueólogo boliviano Don Max Portugal-Zamora (portanto, com um nome muito peculiar) deu atenção a uma descoberta que, ao que parece, teria sido usada como recipiente de alimentação de porcos... 
Havia inscrições nesse recipiente que eram largamente semelhantes a inscrições cuneiformes sumérias.
Fuente Magna bowl (Bibloteca Pleyades)

Como é óbvio, não se fala em inscrições sumérias na América sem levantar logo polémica, pela proibição instituída de considerar viagens pré-colombianas. Assim, podemos encontrar a versão crítica da descoberta, e dos problemas que se levantaram no site "bad archeology":
... e curiosamente, o crítico não conseguindo afastar por completo a descoberta como falsa, acaba até por criticar a supressão da página da wikipédia relativa ao assunto.

Parecendo-me perfeitamente plausível considerar que os sumérios, tal como egípcios ou fenícios, poderiam fazer viagens atlânticas, o achado faz todo o sentido ser considerado como uma possível prova de presença. Pela mesma ignorância impertinente, se os polinésios não tivessem sido encontrados espalhados por todas as ilhas do Pacífico, os mesmos idiotas duvidariam das grandes viagens que esses exploradores primitivos efectuaram no Oceano Pacífico. Então se o povo polinésio com uma cultura tribal conseguia tal feito em jangadas, o que não seria de esperar de embarcações de povos que nos deixaram monumentais registos das suas capacidades criadoras, como os sumérios?
Não teria Sargão capacidade de atravessar os mares de Sargaços? Ainda que as cunhas fossem feitas com unhas bolivianas, a influência de uma mesma escrita cuneiforme pode ser evidente, mesmo que a língua fosse outra. 

Infelizmente temos puros idiotas nas nossas universidades que seriam até capazes de duvidar da nossa chegada ao Brasil, se os brasileiros não falassem hoje português.
Partilhando da mesma idiotice sem limites, mas noutro sentido, os "alienados" do Canal História concluem de forma mais caricata que as escritas seriam semelhantes, porque ambos tinham sido influenciados pelos Anunaki extraterrestres... sendo esses os Anedotos, a própria designação antevia que isto tudo serviria para anedota futura. 

Os blocos em Puma Punku
não exibem nenhuma perfeição
Só para dar um exemplo do tipo de ridículo da série, considerando que Puma Punku, ou outros monumentos, envolviam grande tecnologia, só capaz por ET's, o aspecto mais caricato ocorre quando na série se pretende que os blocos são executados na perfeição. Porém quando colocam uma régua para o mostrar, vê-se perfeitamente (11:20'') que a régua está longe de colar, havendo um razoável espaço entre a régua e a sua sombra. Aliás Puma Punku impressiona pouco se nos dermos conta que na Porta do Sol ou da Lua, o arco é tão pequeno que mais parece uma vulgar porta decorada, onde mal cabe uma pessoa... facto que é habitualmente omitido.




Monolito de Pokotia
Monolito de Pokotia
Próximo ainda desses locais, foi encontrado mais recentemente (em 2002) o chamado "Monolito de Pokotia" uma estátua de pedra com 2 metros de altura, que tem na base umas inscrições que também são consideradas próximas de escrita cuneiforme.
Estas são apenas duas descobertas menos conhecidas, e ainda que satisfaçam polémicas habituais, não deixam de ter o seu interesse... e por muito ridículos e alienantes que sejam estes programas que o Canal História se dedicou a promover, servem pelo menos para passar a informação de que estas coisas existem e são controversas. Este monolito de Pokotia tem aliás a particularidade de ter uma espécie de chapéu, ainda que não semelhante aos que encontramos depois na Ilha da Páscoa.


Ânforas do Rio de Janeiro
Há uns anos recebi a informação por email de Evany Fanzeres que me dava conta da descoberta de ânforas romanas no Brasil... na altura procurei mais informação, mas não encontrei.
Encontrei agora um relato dessa descoberta: 
There is a large submerged rock in Guanabara Bay near Rio de Janeiro in Brazil. Lying just three feet beneath the water’s surface, it is called Xareu Rock after the fish that congregate there. In the late 1970’s, a local fisherman using nets around Xareu Rock kept catching some large —3’ tall— heavy earthen jars. He mistakenly assumed they were macumba jars, which are used in voodoo ceremonies and then thrown into the sea. So, as the jars were hauled up, he smashed them with a hammer and tossed the pieces back into the water to prevent them from snagging his nets.
Eventually a scuba diver spear fishing around Xareu Rock found eight of the jars. He took them home and began selling them to tourists. He only had two left by the time Brazilian police stopped him and confiscated the jars. Archaeologists immediately identified them as Roman amphorae from the 1st Century BC.
Ex-marine, underwater explorer and treasure-hunter Robert Marx claims to have discovered a long-forgotten Roman shipwreck in the Bay of Guanabara. It appears to have hit the rock at a high speed, spilt apart and sank in 75 feet of water. While diving to examine the wreckage, Marx removed parts of the ancient amphorae. They eventually ended up in the hands of Dr. Elizabeth Lyding Will, an expert on Roman amphorae. She says they’re similar in shape to jars produced in kilns at Kouass, on the west coast of Morocco.
The Institute of Archaeology of the University of London performed thermo-luminescence testing, which is a more accurate dating process than Carbon 14 dating, and set the jar’s manufacture date around 19 B.C. Many more amphorae and some marble objects were recovered, as well as a Roman bronze fibula, a clasp device used to fasten a coat or shirt.                                                            
http://eglewis.blogspot.pt/2012/07/romans-in-americas.html
Não encontrei muito mais informação sobre a Pedra do Xaréu (existe outra em Recife, onde eventualmente inscrições recentes podem ter servido para encobrir inscrições antigas) na Baía de Guanabara... a mesma que poderia dar problemas de poluição no decurso dos Jogos Olímpicos.
Há um relato curioso num jornal L'Italo-Americano
In 1982, before leaving Brazil, to procure the necessary equipment, Robert Marx had obtained permission from the Brazilian government to explore the site.  He returned in 1983 to begin the salvage operation only to learn that the Brazilian government had had a change of heart.  As he explained it, “The Navy people I worked with told me the Navy had covered up the site to keep it from being plundered. They said this thing is causing too much controversy, it is better if you leave.”

Regardless of what the Navy said, Marx dove to the site of the wreckage and found it to be covered with a large mounds of new sand.  When he inquired about it, government officials told him, “
Brazilians don’t care about the past.  And they don’t want to replace Cabral as the discoverer.”  In other words, proof of Roman presence in Brazil would require Brazil to rewrite its recorded history which emphasizes Portuguese navigator Pedro Alvares Cabral as the person who discovered the country in the year 1500 and, as far as the Brazilian government was concerned, that’s the way it would stay.

Robert Marx was disappointed, to say the least.  He wondered what could have happened to cause the Brazilian government to put a halt to all further excavation of a site of such historic value.  Well, it seems that while he was away procuring the necessary equipment, a political controversy had developed.
It so happens that Brazil is home to a large Italian faction.  Upon hearing the news that the amphorae discovered at the bottom of the bay were believed to be of Roman origin, the Italians began to celebrate.
... que continua levando o assunto até para uma questão de prioridade de descobrimento, e sobre a possibilidade que tal descoberta daria aos italianos de requererem dupla nacionalidade brasileira, com muito maior facilidade - ou seria essa a intenção do embaixador italiano! 
A certa altura as ânforas foram dadas como sendo propriedade do milionário Américo Santarelli... que avançou uma explicação ardilosa - tinham sido réplicas encomendadas por si e colocadas no fundo do mar para "ganharem aspecto envelhecido".  
Conforme referiu um dos autores citados, o único problema dessa versão de Santarelli foi a semelhança com as ânforas romanas produzidas em Marrocos, na antiga província da Mauritania, e especialmente a datação feita pela Universidade de Londres, que as datava de 19 a.C.

Porém, conforme vemos, desde que haja unhas para manter as cunhas, a história continua a ser uma estória com autoria registada, e não parece passível de ser mudada, por mais evidências que saiam debaixo de terra ou do fundo dos mares. A verdade pode vir ao de cima, mas enquanto nos mantivermos chafurdando num mar de mentiras, os factos são um inconveniente à alienação pretendida.

Nota (04/01/2017) _________________________________
Imagem com os professores Claro Calazans Rodrigues e Ondemar Dias, apresentando as ânforas descobertas na Baía de Guanabara em 1975, num número da Revista Manchete (1978).

Artigos em jornais: 
Revista Manchete - O Mistério das ânforas gregas - 4/3/1978
Jornal do Brasil - Ânforas provam presença de fenícios no Brasil - 1° Caderno, 25/09/1982
Primeiro de Janeiro - Romanos no Brasil antes dos Portugueses - 7 /10/1982
Diário de Notícias - Romanos chegam ao Brasil antes de Pedro Álvares Cabral - 22/10/1982
Revista Mergulhar - O Mistério das Ânforas - dezembro/1982
Correio da Manhã - Romanos no Brasil 17 séculos antes de Cabral - 21/12/1982

Ainda podemos encontrar em abovetopsecret.com imagens de Robert F. Marx com uma das ânforas, bem como as duas ânforas que vemos na foto de cima:
 

Mas talvez mais significativo foi uma discussão que corria em 2007 no forum sci.archeology, onde alguém decide perguntar directamente à especialista mundial (falecida em 2009) :
- Elizabeth Lyding Will, professora na Univ. Massachussets, terá então respondido...
___________________  Jack Linthicum (29/05/2007)
I hate to break into this biplay but I did the unthinkable thing for a usenet newsgroup, I asked Dr. Will directly in an e-mail, yesterday. Here is her reply:
Thank you for your message.  I remember with pleasure my lecture to the Bagshot Archaeology Center several years ago.  A friend, June Sparey Green, who was active in the Center, arranged the lecture.As far as the Guanabara Bay amphoras are concerned, I have no reason to think they are not ancient.  I have a fragment of one of the jars here, and to the eye the clay looks to be North African of the 3rd century A.D.  It would be helpful if the Brazilian government were willing to permit further exploration of the underwater site where the amphoras were found, but I understand they are unwilling to do so.The late Harold Edgerton of MIT, who invented sidescan sonar, explored and photographed the site with Mr. Marx some years ago.  It was Professor Edgerton who initially consulted me about the wreck.  I understand from the Portugese Archaeological Service that there are several hundred Roman shipwreck-sites along the Brazilian coast, all apparently ships that had lost their sails and drifted across the Atlantic.
With best wishes,Elizabeth Lyding Will
Portanto o que a Profª Elizabeth Will sabia do "Serviço" Português de Arqueologia é que haveria várias centenas de naufrágios romanos ao longo da costa brasileira porque... (e esta é uma notável explicação) ... "os barcos romanos perdiam as velas e eram arrastados pelo Atlântico".
Ou seja, a arqueologia portuguesa continuava presa ao serviço... de ocultação!
_____________________________________


3 comentários:

  1. Acerca das ânforas romanas no Brasil, uma nota importante foi adicionada, enquanto compilava as coisas do ano passado.
    Ao juntar imagens das ânforas recuperadas, dei com um testemunho atribuído à Prof. Elizabeth Will, que deu conta que - o Instituto Português de Arqueologia (agora IGESPAR) ou outro serviço, saberiam da existência de centenas de sítios de naufrágios romanos ao longo da costa do Brasil.

    Portanto, os poucos casos conhecidos que transparecem, são aqueles que escaparam ao controlo inventariado, e que acabam por aparecer a algum mergulhador ocasional (um certo José Roberto Teixeira), e que neste caso por insistência de Robert F. Marx, acabaram por ter alguma atenção, que culminaram na sua expulsão do Brasil.

    O que se passaria é muito simples... os romanos, e antes deles os fenícios, faziam viagens habituais a África, à América, e ao Brasil em particular, com o simples intuito de comércio. Alguns navios afundavam naturalmente, outros menos naturalmente... a viagem seria arriscada, e haveria alguns inimigos pelo meio.
    No caso do afundamento na baía de Guanabara, mostra que não se terá tratado de nenhum navio à deriva que entrou na baía. Muito provavelmente era um navio ancorado que foi sabotado ou atingido, e afundou ali, em pleno Rio de Janeiro.

    Quando numa das notícias se cita:
    «O Pesquisador Francisco Alves, da CNANS de Lisboa, chegou a declarar no ano de 2003, após rever documentos relativos ao caso; que uma embarcação romana pequena com apenas um mastro, navegando contra o vento, sem lugar para armazenar água potável suficiente para uma viagem tão longa, não poderia atravessar o oceano e chegar até o Brasil.»

    ... está-se a brincar à retórica do despiste, como também vimos no caso da Grota do Medo, pela Prof. Arruda.
    Se, se e se... "se o barco for pequeno, se tiver um só mastro, se navegar contra o vento", e depois diz que não podia fazer a viagem. É quase o mesmo do que dizer - "se um barco romano não fosse posto na água, não poderia navegar até ao Brasil".

    Poderiam ser afirmações de comediantes, mas a nossa academia é mesmo uma triste comédia...

    ResponderEliminar
  2. Foi descoberta uma pirâmide escondida dentro de outra em Chichen Itza
    http://observador.pt/2016/11/17/foi-descoberta-uma-piramide-escondida-dentro-de-outra-em-chichen-itza/

    Cpts.
    José Manuel CH-GE
    Bom ano 2017

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bom dia José Manuel,
      isso parecem quase pirâmides matrioskas... mas é capaz de fazer sentido como a técnica mais natural de construir a pirâmide mais alta.
      Aliás, se pensarmos no formato dos túneis conhecidos nas grandes pirâmides, é o que faz mais sentido como justificação.
      Vou fazer um postal sobre isso.
      Muito obrigado pela informação oportuna.
      Um bom ano de 2017 também para si.

      Eliminar