quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Retratos & Retractos (3)

O livro de Bernardo de Brito, cujo link volto a colocar

Elogios dos Reis de Portugal com os mais verdadeiros retratos que se puderaõ achar

não começa com D. Afonso Henriques, mas sim com o pai, o Conde D. Henrique. 
Faço notar isto de novo, porque há quem se satisfaça em ler apenas a informação transcrita... mas isso não dispensa a consulta do original.
Por exemplo, Bernardo de Brito lança a suspeita de que D. Duarte teria sido vítima de peste através de uma carta que tinha recebido... do tipo "atentado por carta com antrax", suspeita que nunca tinha visto colocada em mais nenhum lado.
Assim, como é natural, Brito junta uma descrição física dos diversos reis, e não apenas dos que transcrevi (... e para quem gosta de opinar, sem se dar ao trabalho de o ler, tem as cópias coloridas dos retratos).

Nesse livro também se acrescentam dois reis da dinastia filipina, mas optei por começar em D. Afonso Henriques e ficar pelo D. Sebastião. Como o início com o Conde D. Henrique gera normalmente mais interesse do que o fim com o Cardeal D. Henrique, junto aqui a tal informação acessível à distância de um clique.

Conde D. Henrique
Logo na página 5, diz Brito:
"Foi o Conde homem grande de corpo, de presença alegre & venerável, teve o cabelo louro e os olhos azuis, como diz na sua história, & o mostra um retrato de iluminação antiga que temos numa bíblia de mão antiquíssima, onde na primeira folha do Prologo está a figura do Conde armado como aqui vai: salvo a coroa de louro, que por não ser Rey & ser tão vitorioso me pareceu acrescentar-lhe, & a banda que por o retrato ter um modo de roupa que não entendemos bem sua postura se lhe pôs do modo que vai."
Conde D. Henrique, na obra de Bernardo de Brito.
Encontramos ainda outras representações do Conde D. Henrique e D. Teresa, mais alegóricas do que concordantes no aspecto:

Representação medieval (à esquerda) e renascentista (à direita)

Assim, por exemplo, se a figura à esquerda (... mais antiga), sugere cabelo alourado para o Conde D. Henrique, enquanto a figura à direita, sugere cabelo mais escuro; curiosamente passa-se o oposto no que diz respeito a D. Teresa!
No entanto, quando se chegou a apontar o Conde D. Henrique como filho do Rei da Hungria, conforme diz Duarte Galvão:
(...) e D. Anrique sobrinho deste Conde de Tolosa [Toulouse], filho segundo-génito de uma sua irmã, e del Rey da Hungria, com quem era casada (...)
poderá ter havido mais ou menos sugestões de representações capilares adequadas à sua região de origem. Ora, Brito diz que "segundo a melhor opinião" seria "natural de Besançon, filho de Guido Conde de Vernol & de Ioanna filha de Geroldo, Duque de Borgonha", e claramente não segue Duarte Galvão, nem segue a tese de Damião de Goes, já aqui abordada.

Num comentário, João Ribeiro sugeriu que a diferença de tonalidades entre pai (louro de olhos azuis) e filho (cabelos e olhos castanhos), poderiam dar alguma sustentação a um mito de que D. Afonso Henriques seria filho de Egas Moniz e não do Conde D. Henrique.
Acontece que D. Teresa de Leão era filha de Ximena Moniz, concubina de D. Afonso X de Leão e Castela. Portanto, uma simples inspecção faz ver que D. Afonso Henriques era também Moniz, pelo lado do bisavô materno - Munio Moniz, conde do Bierzo. Parece-me bastante mais complicado, distinguir fisionomicamente esse avô, do pai de Egas Moniz, ou seja Munio Ermiges, também ele nobre, Senhor do Ribadouro. Lembro que por esta época a referência Moniz ou Muniz, era usada apenas para indicar os filhos de alguém chamado Munio, tal como Henriques era o patronímico dos filhos de um Henrique.

Outros retratos
Interessou-me especialmente chamar a atenção sobre esta obra de Bernardo de Brito. Sendo mais ou menos inventados, se os historiadores modernos desdenharam o que puderam sobre Brito, acabaram por usar muitas vezes os retratos que ele compilou nesta obra, à falta de outros.
Porém, volto a realçar que ao mesmo tempo Bernardo de Brito acaba por fazer um resumo da História de Portugal, sob a forma de elogios aos reis.

Em particular, Brito fala da ida do Conde D. Henrique à Terra Santa, no sentido de participar, não na Cruzada de Godofredo do Bulhão (... seu irmão, segundo Damião de Goes), mas sim numa Cruzada seguinte, acompanhado de Hugo de Lusignan.

Há uma série de outros retratos, atribuídos a Melchior Tavernier, em 1630, ou seja, uns 20 anos depois da obra de Brito, onde poderemos ver de novo a influência dos seus retratos, até na pose estranha de D. Pedro I, por exemplo. 
Uma novidade aqui é a inclusão de vários retratos de rainhas e concubinas...






Melchior Tavernier, em 1630

... mas talvez a principal novidade será a indicação do Conde D. Henrique como Conde de Limburgo, uma cidade belga, e esta localização mais se associaria à versão de Damião de Goes, já que Limburgo não seria longe das paragens de Boulogne-sur-Mer.

20 comentários:

  1. É bom ver que a minha (pseudo)teoria não caiu em saco roto.

    "D. Afonso Henriques era também Moniz, pelo lado do avô paterno".

    Posso não estar a perceber bem a linguagem mas não será bisavô materno?

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    1. Referindo-se ao assunto como "a minha (pseudo)teoria", parece que está a querer ser modesto colocando o "pseudo". Lamento, mas se procurar no Google, por "afonso henriques * filho de egas moniz" encontra mais de 24 000 resultados.
      Até eu, que não me interessei pelo assunto, e mantenho dúvidas, já conhecia essa conversa desde a minha infância.

      Agora, mais uma vez, vou tentar-lhe explicar a diferença entre "mandar bocas", coisa que abunda, e tentar fazer algo mais sustentado.

      De novo, se se der ao trabalho de ler Bernardo de Brito, podemos entender que a razão dessa suspeita nada tem a ver com o tom da pilosidade.
      Diz Bernardo de Brito:
      Foi entregue a Egas Monis fidalgo nobilissimo & de geração antiga & muito abalisada em Portugal & ainda que no princípio cuidaram todos que o menino não vivesse, ou vivendo não fosse útil para o governo, por ser notavelmente aleijado das pernas, seu aio com romarias e devoções impetrou [rogou] na Ermida de Nª Srª de Carquere (que depois foi mosteiro de cónegos regrantes, & hoje têm a renda dele os padres da Companhia de Jesus) saúde para o Infante, & contentamento universal para o povo.
      Criou-se até idade de doze anos em poder de seu aio & daí em diante começou a seguir armas em que saiu estremado
      (...)

      Portanto, essa "sua (pseudo)teoria" deve vir do tempo dos afonsinhos, já que lhes terá parecido estranho a recuperação excepcional da criança que era entrevada das pernas, e tendo sido "criado até aos doze anos em poder de Egas Moniz", por muito crentes que as pessoas fossem em milagres, haveria naturalmente gente menos crédula.

      Quanto às suas conclusões genéticas, que tal um bebé louro de olhos azuis, sendo ambos os pais nigerianos?

      http://nypost.com/2010/07/21/blond-bombshell/

      ... ou então o oposto?

      http://www.dailymail.co.uk/femail/article-1093674/The-tragic-story-white-girl-born-black-tore-family-apart.html

      Her African features were almost certainly a throwback to an unknown ancestor whose DNA, having lain dormant for generations, had emerged in her. But when Sandra was a schoolgirl, this aspect of genetics was unknown and there was no such thing as a DNA test.

      Portanto, antes de se deitar suspeitas sobre ideoneidades maternas, com convicções genéticas semi-científicas, convém notar que são estatísticas simplificadas de conceitos de genes dominantes ou recessivos, e que não estão imunes a variadas excepções, mesmo não contando com mutações.

      Mesmo nos testes de ADN não há 100% de certeza:

      http://genetics.thetech.org/ask/ask200

      porque neste universo, tirando os conceitos abstractos, tudo o que é físico está sujeito ao império do caos. Chama-se a isso "mecânica quântica".

      A sua contribuição aqui para o assunto foi notar que os olhos e cabelos castanhos de D. Afonso Henriques seriam estranhos se a paternidade fosse de pais louros. Ok, muito bem.
      Mas fez isso com base no que Bernardo de Brito dizia sobre o Conde D. Henrique?
      Não, ufa, que ler um texto antigo dá trabalho, os outros que o façam.

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    2. Foi ver que o filho D. Sancho I é descrito com "... olhos pretos grandes, mas carregados com algum tanto, a cor do cabelo castanho escura & mui tirante a preto..."?
      Não me parece.
      Ora segundo a sua lógica, se a Rainha D. Mafalda vinha da Sabóia, mesmo ao lado da Burgundia, devia ser loura, e tendo Afonso Henriques um tom castanho claro, como é que isso dá um filho D. Sancho ainda mais escuro na pilosidade e nos olhos?
      Pois, poderia vir do padeiro, enquanto D. Afonso Henriques andava a bater-se com os mouros.

      Portanto, onde é que andava a "alta estirpe" ibérica no que diz respeito aos reis portugueses?
      E teve o descaramento de dizer que eu lhe dava trabalho de procurar quadros dos reis antigos, quando eu os tinha aqui posto a todos?
      Só poderia estar a gozar comigo.
      Mais, se quer saber da pilosidade do D. Dinis, pois leia o que Brito escreveu. Está lá!

      Os alemães tinham um polvo que acertava nos resultados do mundial... mas há uma pequena grande diferença entre um polvo ter razão uma ou outra vez, e um polvo saber o que faz.

      Não me interessa ter razão, só por ter razão, deixo essa competição para si e para o polvo.
      Interessa-me sustentar as coisas, como fazia Bernardo de Brito. Sustentava praticamente tudo o que dizia com registos de outros. Se os registos alheios e os argumentos expostos estavam certos, ele estava certo.
      Por isso, a única maneira que houve de o atacarem foi dizerem que ele tinha fabricado um livro antigo, com isso pretendendo descredibilizar tudo, quando ele até pouco usara nesse livro.
      Se os historiadores portugueses tivessem vergonha, deveriam era dizer que ele tinha sido percursor da historiografia científica, pelo cuidar de deixar tudo referenciado, e não ignorarem o seu estudo.

      Por isso, meu caro, o que está em causa nada tem a ver consigo. Deixe de olhar para o seu grande umbigo.
      Eu ignoro por completo os seus disparates, que eu também os tenho, mas agradeço que não insista neles, nem se ponha para aqui numa figura triste em competição comigo.
      Se é para dizer que deveria ter escrito bisavô em vez de avô, escusa de dizer que não percebe bem a linguagem, porque aí eu posso responder-lhe que também falei em "avô Barbadão", salvaguardando o erro.

      Já abusou dessa tristeza de implicar e provocar com o que escrevo.
      Tenho quase 400 textos aqui, e não estou para aturar correcções desse tipo, mesquinhices de garotos. Ok?

      Abç

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    3. (*) Reli que contestava mesmo os quadros, resultantes das descrições de Brito... ora, ainda pior!
      Então a descrição de D. Afonso Henriques, que quis usar, vinha de quem? Não era do mesmo Bernardo de Brito? Homem, apenas com a gula de querer acertar nalguma coisa, nenhum raciocínio se lhe aproveita. Não foi só preguiça, foi ainda mais a cegueira.

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    4. Pensava que tínhamos ficado entendidos…
      Primeiro deixe-me que lhe diga que a sua capacidade de síntese é admirável…
      Bem, pondo de parte a sua má disposição, aqui segue a minha autodefesa.
      Nunca disse que a lenda de D. Afonso Henriques poder ser filho de Egas Moniz era minha, não sei onde foi buscar essa insanidade. Disse sim que o facto de não ter nem olhos nem cabelos claros poderia dar alguma sustentação a essa teoria. Só e apenas. Por descender dos Godos/Suevos que impuseram o feudalismo na Europa e por essa malta da Nobreza muito provavelmente terem os genes recessivos de cor clara. Aliás, humildemente, porque não era caso para mais, deixei bastante claro que isto era apenas um pormenor, o caro Da Maia é que no alto da sua arrogância entrou a matar. Sim claro que essa suspeita histórica não vinha da cor de olhos ou de cabelo, essa parte aí é minha. Bem, essa dos papás nigerianos ou vice-versa nem comento, até porque são a exceção que confirma a regra. Daqui pouco voltam os das ilhas Salomão… Para mim, por acaso bastou a descrição que você transcreveu de Bernardo de Brito sobre D. Afonso Henriques, mas obrigado pela descrição do pai, que caiu que nem ginjas! Não li Bernardo De Brito mas espero ler, já guardei o link o qual agradeço. De momento iniciei a leitura da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Cada coisa a seu tempo. D. Sancho I se calhar saiu à avó campesina que o avô Egas Moniz andou enrolado. É que isto da genética é complicado e às vezes até negros têm filhos brancos… Eu não tenho nada contra Bernardo de Brito, onde foi buscar isso? Por outro lado também não prego que tudo o que ele diga seja a verdade suprema. Tem de se comparar a outras fontes e chegar-se a algum tipo de consenso mas isso, você sabe melhor do que eu. Em que fontes se baseou Bernardo De Brito? De resto com tentáculos ou não, isto é apenas uma teoria e como todas as teorias ou se confirma ou não, senão fica como todas as outras teorias, apenas teorias. O seu blog está repleto delas, umas melhor fundamentadas que outras, mas apenas teorias. De resto isto nada invalida ou valida a minha PSEUDO (também já lhe tinha chamado mini) teoria. Que havia uma grande probabilidade de D. Afonso Henriques ter pelo menos olhos ou cabelos claros, havia! Também fica chateado comigo por lhe ter corrigido um erro no seu texto? Isso é simplesmente falta de humildade. É que eu também já me corrigi a mim próprio e esta correcção do bisavô é para que algum leitor mais distraído não caia em erro. Penso que isso não tem mal nenhum. Por falar nisso, a meu ver contínua o erro:
      “D. Afonso Henriques era também Moniz, pelo lado do bisavô paterno”
      Se era por parte de sua mãe então será bisavô materno…
      Não fique preocupado que eu não estou em “competição” consigo. “Eu sei que nada sei” e na verdade dou-lhe o mérito de se preocupar com a História, da sua dedicação e da sua perspicácia para a coisa. Aliás é por isso que visito o seu blog. Só é pena em oposição ser tão sociologicamente inapto, arrogante e mal formado.
      Ab.

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    5. João Ribeiro,
      se mantive a conversa foi porque notei diversos problemas de linguagem, apesar de escrevermos ambos em português.

      (i) Neste caso, confundiu argumento com teoria. Expôs um argumento e chamou-lhe teoria (a teoria já existia).
      Erros de escrita (sim é bisavô materno, obrigado) são diferentes de usar significados diferentes para as mesmas palavras.

      (ii) "A excepção que confirma a regra"... é um provérbio, só serve para argumentar no café da esquina. É uma frase contraditória em si, ainda mais do que o "mito ser nada que é tudo".
      Não tem tolerância nenhuma da minha parte para contradições a que pretende dar o estatuto de argumentos.

      (iii) O que contestei foi a sua argumentação ligeira, e ao basear-se no conceito de uma "alta estirpe", loura de olhos azuis, qualifiquei-a de grosseira. Não disse que era falsa, mas simplesmente dadas diversas condicionantes e excepções não se pode pretender usar como regra.

      (iv) Insistiu, mas compreendi. Porque foi buscar outros conceitos popularizados, como a do "sangue azul" se aplicar ao tom branco da pele, mas que não são argumentos de prova. E como estava a entrar em certos estereótipos raciais, mostrei-lhe um argumento diferente com os orangotangos. Esse argumento é claro como a água. Aplica-se aos que pensam que a "eugenia" leva a alguma evolução da humanidade.
      Terá interpretado mal, mas já o tinha usado:
      http://alvor-silves.blogspot.pt/2013/11/inevitabilidade-1.html

      e dizia: "Afinal, o seu conservadorismo, pode ter mantido a herança da sua ancestral linhagem genealógica, mas nunca os aventurou para além das florestas tropicais."

      Portanto, não estava a fazer nenhuma indirecta, estava a criticar um pensamento que existiu e existe em sectores elitistas, monárquicos e não só. E nem sequer é uma crítica à monarquia em geral, porque houve imperadores romanos que souberam declarar sucessores que não eram seus filhos... A dinastia que foi de Nerva a Marco Aurélio é considerada por muitos como a mais auspiciosa.

      (iv) Classificou o argumento como "estúpido", com letras maiúsculas, sem contra-argumentar, e a partir daí estamos noutro modo, porque creio que não entendeu que a minha resposta, não tinha a ver consigo, que nem conheço. Tem a ver consigo, quando disse que estava a ser teimoso e a centrar o assunto em si. Também me parece natural que se classifica o argumento como estúpido, sem outra razão, eu contraponha ignorância por ausência justificativa.

      Já o poderia ter feito quando usou o epíteto "devaneios hífanizados" (... é hifenizados), ou invocou a sua gata que mia, mas achei que não valia a pena. E se não valia a pena, era apenas porque ou se entende, ou não se entende... e se não entende, paciência, nada tem a ver com "rancor". É questão de linguagem.

      (v) Ainda que eu procure ser claro, há aqui algumas coisas que se ajustam ao entendimento que cada um traz. Só com uma boa dose de paciência, de ambas as partes, se pode minorar essa diferença. Nem sempre a tenho, mas o seu caso é exemplo que dou uma atenção considerável aos comentários. Se sou "sociologicamente inapto, arrogante e mal formado", creio que não se pode queixar de que o tenha ignorado, quando era fácil, como entenderá.

      (vi) Posso ser arrogante, porque há limites da razão que dificilmente tolero serem ultrapassados, e não sou meigo com argumentos falaciosos. Ora, quando o portador não se dissocia dos argumentos, sofre com os qualificativos aplicados aos argumentos.

      E tudo isto se resume a uma questão de argumentação.
      Ignora, e continua todo pimpão dizendo que a coisa "lhe caiu que nem ginjas", quando insiste em contradições, escolhendo o que interessa à razão que defende e ignorando tudo que não lhe interessa.
      Isso representa a cegueira que tenho criticado neste blog.

      Olhe, Isabel Stilwell dá D. Teresa como loura de olhos verdes.
      Porquê? Não sei, mas interessa?

      Se interessa, veja o primo Afonso VII:
      https://es.wikipedia.org/wiki/Anexo:Monarcas_de_Le%C3%B3n

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    6. ... ou seja, não o querendo contrariar, talvez apenas signifique que necessite estender a "teoria" (e aí já seria teoria), de que a actuação de Egas Moniz foi extensiva ao primo:

      https://es.wikipedia.org/wiki/Anexo:Monarcas_de_Le%C3%B3n#/media/File:Alfonso_VII.jpg

      ... e repare que, nesse caso, conseguirá explicar de forma muito mais simples a razão pela qual o primo aceitou receber Egas Moniz, aceitou o seu pedido de clemência, e no fim até lhe perdoou.

      Pode é ter um problema com o avô de D. Teresa:
      https://es.wikipedia.org/wiki/Fernando_I_de_Le%C3%B3n

      Mas, o que é que isso interessa, não é?

      Abç

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  2. Olá,
    Sim argumento é melhor termo que teoria, aliás no meu primeiro comentário foi basicamente isso que se subentende.
    “Pensei ser inexistente uma descrição sobre D. Afonso Henriques em termos de cor de olhos e de cabelo. Se essa descrição foi baseada em fontes coevas e a ser verídica, dá ao mito de Egas Moniz ter trocado o filho de pernas deficientes de D. Henrique por um seu, uma força maior. “
    No sentido de que, a teoria de troca de filhos já existe, apresento apenas um argumento que dalguma força a essa teoria.
    Mas oiça, nunca pensei que fosse degenerar em tão extensa discussão. A meu ver isto é muito simples e pretendo finalizar a discussão sem ser necessário o uso de textos extensos, pretensão a erudição ou argumentos tão díspares como ilhas Salomão, moluscos ou quadros com muito pouco de rigor.
    Primeiro, esse elitismo pelo qual tanto se insurgiu das “altas estirpes” existia. É um facto. A Nobreza casava e gerava com a Nobreza. Só com o advento dos Descobrimentos a burguesia começa a comprar títulos nobiliárquicos e mesmo assim olhados de soslaio pela nobreza velha. No séc. XII duvido que um camponês casasse com a filha do Rei... Esse elitismo existia, ponto. E acontecia desde os tempos que os bárbaros instalaram o feudalismo na Europa. Olhos, cabelos claros ou não, esse elitismo, existia. Agora, penso que tem alguma lógica que muita dessa malta tenha mantido traços físicos comuns com os seus avoengos godos/suevos, uma vez que sempre andaram misturados uns com os outros. É óbvio que parto do princípio de que estes bárbaros tinham de modo geral essas características. Por outro lado deixei sempre em aberto que poderia ser assim ou não. Nunca afirmei que todos os nobres seriam loiros ou tivessem olhos claros, mas sim que haveria uma maior percentagem nessa classe. Foi só isso que disse.
    Segundo, a verdade é que eu sempre usei o termo “probabilidade” e contra isso não tem argumento possível, porque a probabilidade pode ou não pode ser. D. Afonso Henriques tinha uma grande probabilidade, até porque o seu pai seria loiro de olhos claros, como o caro da Maia muito bem me informou, de ser ou pelo menos loiro ou ter olhos claros. A mãe mesmo que não os tivesse teria pelo menos a probabilidade de passar o gene recessivo de cabelos e/ou olhos claros. Logo, a probabilidade existia, foi isso que afirmei. Tendo em conta que a probabilidade pode ou não pode ser, não vejo que argumentação me possa dirigir.
    Posto isto, tudo o que me venha dizer será apenas meros reflexos de sobrevivência que antevêem a certeza da fatalidade.

    Ab.

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  3. Viva,

    Pensei um bocadinho mais neste assunto.

    Toda esta minha teoria/argumento/ideia, chame-lhe o que preferir, na verdade baseia-se em 2 princípios base bastante simples e ingénuos. O primeiro seria de que num modo geral os Godos/Suevos teriam essas características físicas. Penso que teriam(?). O segundo, e este será a chave do problema, é que esta malta bárbara teria instituído o feudalismo exclusivamente apenas por e com eles. Ora penso que não deva ter sido bem assim (Estou apenas a teorizar com base em alguma razoabilidade, a pensar cá com os meus botões). De algum modo os bárbaros para enraizar o seu poder, além do uso da força necessitaram certamente de criar alianças com a população local, com o poder local. Fossem chefes locais, mercadores ricos, líderes, reminiscências do poder Romano, não sei mas certamente terão tido a necessidade de se envolver com os locais que tivessem algum poder sobre os demais. Assim esta ideia da cor de cabelo/olhos de D. Afonso Henriques, cai por terra.

    Ab.

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    1. Sim, é isso, creio que a intervenção do José Manuel resumiu isso de forma bastante melhor, até porque levei o assunto para considerações laterais, que não abonaram para esse esclarecimento... e ao contrário levaram para a confusão.

      Tendo visto centenas de representações medievais, a ideia de "nobreza alourada" foi sendo progressivamente substituída por alguma aleatoriedade, em especial no que dizia respeito à nobreza ibérica, mas não só.
      Por exemplo, o próprio Guilherme da Normandia, que ficou rei de Inglaterra em 1066, é descrito como tendo pele e cabelo escuro:
      "William was a tall, dark-skinned individual with receding hair..."
      http://travellinghistorian.com/conquer.html
      " William matured into a tall, thick set man with dark hair, which receeded from his forehead early."
      http://www.geni.com/people/William-The-Conqueror-King-of-England/5597380726000028489
      Uma boa parte disto se resume a... mulheres, e ascensão de filhos bastardos.

      Por outro lado, os germânicos não desprezavam os romanos... tinham sido escravos e legionários, e o grande sonho de Ataúlfo, por exemplo, era entrar em Roma como pessoa livre. Casou com a filha do imperador, e pretendeu que o filho servisse a união - sem sucesso. Portanto, o estabelecimento dos bárbaros não visou inicialmente nenhuma pureza tribal. Isso pode ter acontecido depois, quando Roma já não ameaçava.
      No entanto, é difícil ver um homem inibido pelo tom capilar, e assim vários "bastardos" apareceriam. Mesmo que não fossem logo sucessores de reis, seriam nobreza e candidatos em caso de falta.
      Parece-me quase unânime que as tribos bárbaras invasoras eram essencialmente alouradas, ou tanto quanto os romanos não o seriam (mas teriam olhos claros), exceptuando os mongóis, hunos, que se fixaram na Hungria. Só que os próprios romanos foram invasores sobre a população existente, e assim a história não é tão simples.
      Os normandos vindos dos vikings, tinham ainda influência dos Sami, variante mongol, e assim vários tinham cabelo escuro.
      Ao que parece, os merovíngios davam prevalência ao tamanho do cabelo, e não à cor:
      http://german210.blogspot.com/2008/06/medieval-hairstyles-by-julie.html

      Depois, e isto é importante, há uma enorme transição na chegada dos árabes. Na península isso é marcante, mas mesmo em França coincide com o fim dos merovíngios e começo dos carolíngios. Se ler o link de cima, até a moda do cabelo comprido vai mudar.
      Portanto, parece-me mais natural que quem estava mais à vontade em escolher e impor concubinas seria quem teria maior poder. Ou seja, a variedade capilar poderia ser até mais abundante na nobreza do que na população, especialmente em França e Alemanha... porque esses reis, duques, etc... também casavam com filhas de reis, duques ou condes ibéricos.

      O argumento capilar só me parece cair mais por terra, dado termos uma representação do primo Afonso VII com o mesmo aspecto de cabelo castanho que D. Afonso Henriques. A história das irmãs D. Teresa e D. Urraca é muito semelhante - ambas casam com primos burgúndios, mas Raimundo teria o cabelo escuro:
      https://es.wikipedia.org/wiki/Raimundo_de_Borgo%C3%B1a
      ao contrário de Henrique... ou seja, o argumento capilar não é errado, mas é fraco dadas as grandes variações.
      Agora, estou de acordo que havia um fecho da nobreza, numa filosofia de se separarem como elite, e por isso abordei o assunto como um erro de filosofia. Depois teriam ainda problemas de doenças associadas a essa consaguinidade... Talvez despropositadamente preferi focar um outro propósito racial, que foi popular no Séc. XIX, e que levou a muitos dos conceitos populares sobre nobreza - muito branca, loura, de olhos azuis, etc.
      Se olharmos para os séculos anteriores, isso fazia pouco ou nenhum sentido, mas criou-se esse mito.

      Abç

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  4. Boa tarde,

    Obrigado pelo esclarecimento. Realmente tudo faz mais sentido agora.

    Abraço

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  5. Boas,

    Achei este vídeo em que JHS explica um pouco esta situação.

    https://www.youtube.com/watch?v=eR5cCO-ts_Y&index=23&list=PLNdU5M6bH0DY7tEJpDgriW19TYrVj5vm-

    Ab

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    1. Boa noite,
      é engraçado o João escrever JHS porque isso é ainda um cristograma:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Christogram
      ... entendido como "Jesus Hominum Salvatore".

      José Hermano Saraiva foca diversos temas, com interesse, e podem levar a vária discussão.
      Por exemplo, parece-me exagerado ele dizer que não existia uma significativa força de cavalaria nos reinos ibéricos, porque assim nos múltiplos confrontos com os árabes, não teriam grande hipótese de lhes fazer face.
      Convém não perder de atenção o panorama global, e não se poderia ter uma situação de equilíbrio militar durante mais de 500 anos, que fazia a fronteira ibérica cristã oscilar para baixo e para cima, se não houvesse uma estrutura semelhante de ambos os lados.
      Aliás, só com muita fé podemos acreditar que esse equilíbrio de 500 anos na Península Ibérica foi natural... interessava e justificava a lógica social medieval.
      O poder na sociedade medieval só aparentemente estava na nobreza, a grande força que unia toda a sociedade era o clero (e no caso sarraceno também).

      Foi a Igreja Romana que teve interesse no colapso da sociedade romana, e num refundar da sociedade numa versão "hippie", que proclamava a vida simples e despojada. Por isso as vilas romanas sem comércio colapsaram, e tudo voltou a uma lógica de sobrevivência primitiva de pequenas comunidades, em que as maiores cidades eram praticamente aldeias dentro de um castelo.
      No início houve todo o interesse do clero em entregar de bandeja o poder aos bárbaros, e definir uma aparente estrutura de topo, entretida na guerra, mas note que sem armas sofisticadas (basicamente nem arcos e flechas usavam, só foram usados de novo na Guerra dos 100 anos), qualquer bando organizado de desordeiros com um ferreiro faria um exército similar e seria um problema que abalaria o reino.

      O caso português foi mais sui generis, porque haveria uma estrutura militar das vilas com foral, que formavam milícias de combate, de que herdámos a estrutura corporativa dos Bombeiros voluntários. Não havia propriamente grandes senhorios como existiam em França, e a propriedade baseada no minifúndio era o mais comum. Aliás, houve logo problemas de lutas internas quando D. João I decidiu dividir o reino pelos ducados dos seus filhos, excepto o bastardo, o Afonso de Bragança. Esse só promovido de duque a conde pelo Infante D. Pedro enquanto regente, esperando que ele se acalmasse, mas sem sucesso.
      Mas sim, o ponto principal é que entrada dos árabes obrigou a um refazer da nobreza ibérica... mas com o clero não foi preciso.

      Abç

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  6. Boas,

    Foi inocente a coincidência do significado de JHS.

    Agora um aspecto relacionado com D. Afonso Henriques e sua ascendência e que recentemente descobri e não fazia a mínima é que D. Afonso Henriques descende de Mumadona Dias e dos antigos condes Portucalenses, a antiga família dos Mendes. Pena é de não ter sangue de Vímara Peres o que me dava algum gosto pessoal por carolice. Gostei de descobrir que descende de antigos condes Portucalenses. Não tinha ideia disso, mas tem a sua lógica. Enfim sempre a aprender.

    https://www.youtube.com/watch?v=njLNcXaedXA
    https://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADmara_Peres


    Bom fds.

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    1. Não é muito claro, para mim, o que aconteceu para se ter ignorado sistematicamente a figura do Conde Nuno Mendes, que em 1071, depois de ter proclamado a independência do condado, foi derrotado e morto na Batalha de Pedroso pelo rei galego Garcia II.
      Aliás, o que é engraçado é que o próprio Garcia II se declara Rei de Portugal, aproveitando a declaração do conde morto, mas por sua vez será logo derrotado, na disputa entre os irmãos.

      Havendo muito pouco sobre este Conde Nuno Mendes, o que há também é pouco esclarecedor dos motivos para a oportunidade de tal declaração independentista.

      https://www.academia.edu/4941474/_Nuno_Mendes_-1071_._O_%C3%BAltimo_conde_de_Portucale_

      Normalmente, dos tempos pré-Conde D. Henrique, conhecia-se tudo sobre forma de lenda, inclusivé a do vimaranense Vímara Peres.
      Os senhores da Maia, seriam supostamente descendentes de Lovesendo Ramires, filho do famoso Rei Ramiro II de Leão, e de uma nobre moura:
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Lovesendo_Ramires
      ... num caso de relação entre filhos de reis cristãos e reis mouros.

      Abç

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  7. Conhecia apenas os casos mais mediáticos de casamentos mix da época mas pelos vistos era mais comum do que (geralmente)se pensa.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Sancho_Alf%C3%B3nsez

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Martim_Afonso_Chichorro

    Bem, ao que parece muita nobreza Portuguesa descende inclusivamente do profeta Maomé.

    http://geneall.net/pt/forum/45854/d-duarte-pio-profeta-maome/

    Ab

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    1. Quando fiz uma pequena análise dos reais bastardos

      http://alvor-silves.blogspot.com/2014/04/dos-comentarios-7-face-da-alface-e-da.html

      vi o caso do Chichorro, cujo nome é estranho, parecendo alentejano. Parece ser uma designação alternativa de "cachorro", com mais que um significado.

      Mas o que achei curioso é que os bastardos não incomodaram a sucessão, até ao caso do filho de D. Dinis.
      E o problema, é que houve um clima de "golpe político de bastidores" que afastou D. Sancho II para colocar D. Afonso III, e a partir daí os bastidores continuaram a pressionar até colocarem o Mestre de Avis.

      Chinchorro (e não Chicorro, mas é parecido...) é o nome de uma cultura pré-inca, que tinha o ritual de embalsamento, quase ao mesmo tempo, ou até antes dos Antigos Egípcios:

      http://ngm.nationalgeographic.com/1995/03/chinchorro-mummies/arriaza-text

      Aqui o nome "Chinchorro" é acidental, e parece dever-se a uma praia cujo nome espanhol seria tipo "praia dos cachorros", onde se encontraram as tais múmias... mas não deixa de ser curioso.

      Quanto à ascendência de Maomé... é quase certo que todos vamos lá parar, porque ao fim de 30 gerações (600 a 800 anos) tem mil milhões de antecessores, e mesmo que a maioria seja repetida, só em casos raros de populações completamente isoladas, é que conseguiria não ter "contaminação" genética.
      Ou seja, praticamente todos descendemos de imperadores romanos, de Carlos Magno, etc... só que uns sabem como, e outros não fazem ideia.

      Abç

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  8. Saudações,

    Sim, Chichorro penso que virá de cachorro. Não tenho bem a certeza porque não consegui achar em que livro li isso e a minha memória não vale nada mas tenho a ideia de que ao tempo da crise de 1383-1385 os espanhóis chamavam à tropa Portuguesa "chichorros" devido ao seu corte de cabelo curto. Penso que sim mas não tenho a certeza.

    Na altura de Maomé ou dos imperadores, reis a que faz alusão estes não seriam os únicos a gerar, havia toda uma humanidade que gerava simultâneamente. Mas sim, compreendo que ao fim de tantas gerações de descendentes multiplicando por descendentes, lá calhará algum ilustre dos mencionados como nosso antepassado.

    Ab.

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    1. A menos que se verifique um caso de efectivo isolamento - digamos, como nas ilhas remotas da Polinésia, em que durante séculos houve populações isoladas, ao fim de 20 gerações (400 anos) é muito difícil que todos os habitantes não partilhem ancestrais comuns, porque cada um deles tem 1 milhão de "avôs", e por muitas repetições que haja, só se ficariam completamente isolados é que não têm antecedentes comuns.
      Se isto é assim ao fim de 20 gerações, mais é ao fim de 40 gerações (800 anos), com 1 bilião (um milhão de milhões) de "avôs"... ou seja estamos a falar de 200 vezes a população mundial como antecessores. Por isso têm que ser forçosamente repetidos, e só por uma ultra-rígida segregação é que não haveria misturas.
      Ou seja, eu diria que é praticamente certo que toda a população portuguesa descende de alguma forma de D. Afonso Henriques, a menos que sejam imigrantes recentes... e o próprio D. Afonso Henriques teria quase de certeza antecedentes que o levariam facilmente a Maomé.
      É apenas uma questão de aritmética, mas é uma questão muito concreta... não há maneira de escapar a essa progressão exponencial dos antecedentes.
      O que é estranho, e isso sim merece muito mais reflexão, que já aqui levei a cabo, é como é que foi possível ainda assim manter comunidades afastadas em territórios contíguos, levando ao ponto de haver diferenças raciais tão acentuadas entre europeus, asiáticos e africanos. Ou seja, não foi algo muito natural, foi algo essencialmente forçado por políticas de separação e segregação, especialmente durante a Idade Média.

      Abç

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  9. Não é que isto tenho grande interesse mas de repente lembrei-me que seria mais usual a palavra "perro" para cão ou para cachorro no sentido do português do Brasil. Não sei se nessa altura se usaria a palavra "cachorro" para designar um cão novinho(?).

    Talvez em algum destes significados estará a resposta:

    http://es.thefreedictionary.com/chinchorro

    http://www.dicio.com.br/chichorro/

    Ab

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